Foto: Jornal Meio Norte
Pela primeira vez na história do ensino superior brasileiro, o número de calouros emEngenharia superou o de Direito. A área agora só fica atrás de Administração. Os dados foram levantados pelo Ministério da Educação, a partir dos seus censos.
Em 2006, foram 95 mil ingressantes em Engenharia (5% do total). Cinco anos depois, eram 227 mil (10%). Já a quantidade de calouros em Direito recuou 4%.
Matheus Ravelli dos Reis,18 anos, é calouro de Engenharia Civil. Decidiu fazer o curso por um conjunto de fatores. No início, ele conta que foi difícil escolher, mas com o passar do terceiro ano fui amadurecendo a ideia de cursar Engenharia.
Participou de olimpíadas cientificas e conheceu profissionais da área, tendo uma noção melhor do que é ser engenheiro. Além disso, outro fator foi o crescimento do país. Com a engenharia em alta, é notável a carência de profissionais qualificados na área.
Embora o Censo aponte esse aumento no número de ingressantes no curso de Engenhaira, o déficit de profissionais ainda é muito superior ao volume de universitários concluintes.
Foram 45 mil em 2011, diante de uma necessidade de ao menos 70 mil novos engenheiros ao ano, de acordo com cálculos oficiais. Essa situação se deve a dois fatores.
O primeiro deles é a grande demanda desse profissional por conta do avanço dos setores relacionados à área.
Outro fator é a grande evasão após o início do curso. Levantamentos mostram que, atualmente, menos da metade dos calouros de Engenharia consegue terminar o curso. A desistência geralmente acontece porque o curso é muito teórico e exige conhecimento mais aprofundado sobre a área de exatas (Física e Matemática).
Ravelli dos Reis estuda na Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e não quer ser incluído no número de desistentes do curso. “O primeiro contato está sendo tranquilo, mas tende cada vez mais a dificultar. É realmente um curso muito difícil e exige dedicação por parte do aluno. Muitos ficam perdendo matérias e assim a turma é sempre reduzida com o passar dos períodos”, coloca o estudante.
“Para cursar Engenharia é indispensável a afinidade com o cálculo e muitos acabam por não conseguir isso, acarretando dívidas de matérias e até cancelamento de matrícula.
Eu não cogito desistir. Quero me dedicar ao máximo e me qualificar para futuramente poder trazer ideias inovadoras que facilitem a vida cotidiana. Já pretendo começar pesquisas científicas e programas de extensão que possam aprimorar meu currículo profissional”, acrescenta Ravelli.
A expansão do número de ingressantes em Engenharia é um avanço, porém, ainda insuficiente para resolver a carência da área no país. No Piauí, de acordo com o Sindicato dos Engenheiros do Estado, o mercado ainda continua bem aquecido e à espera de profissionais.
O presidente do sindicato, Antonio Florentino, explica que até a década de 80 havia um processo de desenvolvimento do país e uma consequente valorização da Engenharia, com uma grande oferta de vagas.
De 1980 a 2000, houve uma desaceleração do desenvolvimento e começou a haver falta de mercado de trabalho, o que fez com que os profissionais migrassem para o mercado financeiro.
“Só em 2006 e 2007, com o projeto do PAC (Programa de Aceleração e Crescimento), o país voltou a investir em infraestrutura e com ele deslanchou o processo de desenvolvimento. Todo esse aquecimento resultou numa melhoria substancial da área, faltando engenheiros e incentivando os jovens a buscarem a profissão”, comenta Florentino.
Campo está aberto aos recém-formados
Orestes Cavalcante, estudante do 10° período de Engenharia de Agrimensura na Universidade Federal do Piauí (UFPI) e formado no curso Técnico em Estradas do IFPI, conta que durante toda sua vida acadêmica foi incentivado pelos pais a ser advogado, mas quando chegou à fase do ensino médio ficou observando que a área jurídica estava muito encharcada, ou seja, com muitos profissionais no mercado de trabalho.
Então começou a fazer uma pesquisa sobre as principais áreas de atuação e acabou encontrando o curso de Engenharia de Agrimensura.
“Nele vi que teria mais oportunidades, pois é um mercado de trabalho bem amplo e tem carência de profissionais.
Não pensei duas vezes, fiz a inscrição do vestibular e fui aprovado. Comecei então a cursar. Confesso que não foi uma tarefa fácil, tive muitas dificuldades e encontrei muito obstáculo.
Um exemplo seria o fato de ser um curso em regime integral, exigindo dedicação e disponibilidade. Mas apesar de todos os obstáculos encontrados, gostei do curso”, coloca ao ressaltar que pensou várias vezes em desistir.
“Você chega na universidade e acha que sabe de tudo, mais a verdade é que por mais que tenha sido aquele bom aluno no ensino médio, no ensino superior você não sabe de nada, praticamente é como se aprendesse tudo do zero. Então você tem que enfiar a cara nos livros e ter muita disposição para encarar a longa jornada de estudo”, acrescenta.
Orestes já trabalha na área há quatro anos, em um escritório de projetos de estradas. A empresa onde trabalha pertence a um professor que dava aulas no curso de Técnico em Estradas no IFPI.
“Quando estava se aproximando o final do curso, ele selecionou quatro dos melhores alunos da turma e levou para trabalhar em sua empresa, entrei como estagiário e fui me destacando e hoje sou funcionário do quadro efetivo da empresa.
Minha expectativa pós-formado é de que, com a experiência que tenho em projetos de estradas, caso não seja absorvido na empresa em que trabalho, não terei dificuldades em arrumar emprego, pois há bastante campo de atuação e existem inúmeros investimentos na área de construção de rodovias, setor no qual pretendo me especializar”, finaliza.
Piso é 6 vezes maior que o salário mínimo
A Lei nº 4.950-A/66 estabelece que o salário base do engenheiro que cumpre seis horas de trabalho por dia corresponde a seis vezes o maior salário mínimo vigente no país.
Para o profissional que exceda essa jornada, o artigo 6º determina que a fixação do salário base levará em conta o custo da hora já estabelecida no artigo 5º, acrescida de 25% por hora excedente.
Segundo o presidente do Sindicato dos Engenheiros do Piauí, Antonio Florentino, as empresas costumam pagar um valor superior a isso. Porém, no serviço público, o valor pago sempre é abaixo do estabelecido.
“O Estado não insere uma estrutura de engenharia e isso é uma das nossas dificuldades”, coloca ao destacar que, mesmo assim, o Piauí apresenta um grande número de vagas na área.
“Quando as empresas ligam solicitando indicações de profissionais, temos dificuldades de apresentar. Assim como nas demais regiões do país, no Piauí também não existem profissionais suficientes”, completa. Devido a esse fator e também ao crescimento do Brasil, sempre haverá vagas e melhorias nos salários pagos aos engenheiros.
O calouro Matheus Ravelli, que se considera um estudante engajado no curso, acredita na continuidade da alta da Engenharia. “Há mais vagas para profissionais do que a quantidade de engenheiros formados por ano no Brasil.
Às vezes, ocorre até exportação de profissionais especializados em certas áreas da engenharia. Creio que com o país em crescimento, a expansão deve continuar por muito tempo ainda. Assim espero!”, declara.
Fonte: Meio Norte