Dois anos depois do polêmico Caso Fernanda Lages, até hoje se questiona o que realmente aconteceu com a jovem estudante. Durante as investigações das Polícias Civil e Federal toda a população piauiense depositou esperanças nas palavras e afirmações dos promotores Eliardo Cabral e Ubiraci Rocha.Â
Para relembrar um pouco: Eliardo e Ubiraci Esbravejavam que sabiam que existia um “assassino”. Na maioria das vezes iam na contramão do trabalho de investigação das Polícias Civil e Federal. Muitas foram as declarações dos promotores, ditas e desditas. Afirmações que até hoje confundem as pessoas e que deixaram no imaginário popular uma sensação de impunidade e profundo descrédito no trabalho da Polícia.
Durante meses a população ouviu declarações chocantes dos promotores. Foram várias teses para a motivação da morte de Fernanda Lages. Entre essas falas, os promotores afirmaram categoricamente que ela fora assassinada por um grupo de pessoas poderosas que estariam ameaçadas pela jovem. Quem mais passou a defender essa, digamos, ‘tese’, foi o promotor Eliardo Cabral. Ele diz que poderia se tratar como uma morte por queima de arquivo.
Promotores Eliardo Cabral e Ubiraci Rocha deram entrevistas de que sabiam quem era o assassino
PROMOTOR SABE QUEM É?
Eliardo Cabral não poupou promessas e palavras. Chegou a dizer que era um homem do “pé grande”, que viajou para a Bahia e até questionou o secretário estadual de Segurança Robert Rios, dizendo que ele sabia quem era e se quisesse prendê-lo bastava fazer uma ligação telefônica. Afirmou em todos os canais de televisão que sabia e provaria quem seriam os algozes da jovem estudante, sempre afirmando ter provas e que daria os nomes dos cruéis assassinos.
O promotor, por várias vezes, no entanto, voltou atrás em suas afirmações. Ele parecia criar uma nova estória, pois nunca apresentou à sociedade algo que fosse concreto com relação ao tal assassino. Uma pequena prova sequer, algo que pudesse dar a ele tanta certeza em suas declarações, nunca existiu durante todo esse tempo. Até hoje a população imagina que a impunidade reina no Piauí e que os poderosos que ele tanto acusou nas televisões saíram impunes.
No Facebook, promotor fez versos e falou até mesmo em propina após resultado das investigações
FEZ PIADA COM A PF NO FACEBOOK
Para se ter uma ideia, quando a Polícia Federal apresentou o resultado de onze meses de trabalho, considerado pelos delegados que estiveram a frente como a maior investigação já feita no Brasil, de maneira minuciosa, Eliardo Cabral parecia debochar, escrevendo um texto em seu perfil no Facebook em forma de cordel e poesia questionando os fatos provados cientificamente que apontaram para um suicídio. E novamente se absteu de apresentar qualquer indício de algo que pudesse levar as pessoas a acreditarem em suas afirmações.
Recentemente, quase um ano da apresentação do relatório da Policia Federal, os Promotores tentaram simplesmente abandonar o caso, deixando a população tão estarrecida quanto indignada. O Ministério Publico agiu de forma enérgica e a Procuradora Geral não aceitou a renúncia dos promotores concedendo a eles um prazo bem dilatado para que possam apresentar as tão sonhadas provas que diziam ter.
Investigação da Polícia Federal no Caso Fernanda Lages foi minuncioso e resultou em acidente ou suicídio
PRIMEIRA DILIGÊNCIA: TENDÊNCIA SUICIDA
O caso voltou para a Polícia Civil que agora está responsável por cumprir quatro diligências solicitadas pela dupla de promotores. E o 180graus revela quais foram elas: A primeira, os promotores solicitaram da Polícia Civil que produzam um autopsia psicológica de Fernanda Lages, afim de verificar se ela tinha tendências suicidas. Trata-se de um trabalho bastante complexo e pouco objetivo. Especialistas divergem sobre o tema, pois adentra no vasto campo neuropsicológico.
Identificar o potencial suicida de cada individuo é como buscar agulhas no palheiro. Um somatório de problemas pessoais, combinado com estado emocional, problemas na família, doenças hereditárias, dividas, decepções amorosas, enfim uma quantidade de fatores que inundam o subconsciente durante anos pode levar uma pessoa aparentemente normal a atentar contra a própria vida. Essa solicitação do Ministério Público não possui valor jurídico e a matéria é muito rara no Brasil. A Polícia Civil certamente irá buscar subsídio junto a profissionais e especialistas para atender a demanda da promotoria.
Nairinha, amiga de Fernanda: chegou a ser presa; dizem que ela esconde o nome de uma pessoa
SEGUNDA DILIGÊNCIA: NAIRINHA E OUTRA PESSOA
A segunda diligencia solicitada foi a identificação de uma suposta terceira pessoa, que segundo os autos estivera na companhia da jovem e da amiga Naira Veloso na madrugada de 25 de agosto de 2011 em frente ao prédio sede da Procuradoria Federal. Durante as investigações, as Polícias Civil e Federal não identificaram esse rapaz, que segundo uma testemunha, seria um rapaz alvo, com estatura de 1,70m, jeito afeminado e trajava bermuda e camisa preta.
Naira Veloso chegou a ser presa por dez dias, mas nunca assumiu ter estado no local. O que levantou suspeitas de que Nairinha estaria protegendo alguém. Os promotores passaram a ver os holofotes para esse suposto rapaz e dizem que ele seria o elo misterioso para a solução de crime. Mas isso só agora, depois de tudo que disseram e desmentiram durante esses dois anos de investigação. Afinal, eles não diziam saber quem era o “assassino”?
Pablo é o ex-namorado de Fernanda Lages: promotores mudam versão e agora querem saber tudo sobre ele
TERCEIRA DILIGÊNCIA: EX-NAMORADO PABLO
A terceira diligência é de fato uma grande surpresa: Por várias vezes os promotores, principalmente Eliardo Cabral, defendeu o jovem Pablo Vital, que era o namorado da estudante e chegou a ter contato com ela momentos antes da morte da jovem. O promotor chegou a afirmar publicamente que o jovem nada teria com o caso e ate se solidarizou com o jovem. Agora os promotores pedem que a Polícia Civil faça diligências sobre Pablo. Afirmam que o álibi de Pablo não tem fundamento e miram as energias agora sobre o namorado da estudante.
O estudante Pablo vital compareceu durante as investigações para depor por várias oportunidades afirmando que encontrara com Fernanda na noite anterior no estacionamento da faculdade e que teria ido para casa por volta das 22h. De lá ela foi encontrar amigas e saiu para balada da noite de Teresina. Informou ainda que somente por volta do meio-dia (12h) do dia 25/08/2011 ficou sabendo da morte da namorada. Alegou que os pais e o vigia do prédio na frente da sua casa poderiam testemunhar da hora da chegada em casa. Os pais de Pablo confirmaram o testemunho do filho, mas o vigia não confirmou as declarações de Pablo, levando agora os promotores, que antes defendiam o jovem, a solicitar novas investigações sobre o rapaz.
Local onde Fernanda foi encontrada morta: quem estava com ela ao entrar na obra do MPF?
QUARTA DILIGÊNCIA: EX-NAMORADO DANIEL SAID
A quarta e última diligência também salta aos olhos. Os promotores querem então aprofundar as investigações sobre o advogado Daniel Said. O jovem advogado, que teria tido um romance com Fernanda, fez várias ligações para a jovem nas horas que precederam sua morte. Segundo a quebra de sigilo telefônico autorizada pela Justiça, Daniel Said teria realizado quatro ligações para Fernanda entre 5h e 5h45, justamente no horário em Fernanda Lages foi encontrada morta, segundo a pericia técnica.
O advogado testemunhou por diversas vezes, tato na Polícia Civil como na Polícia Federal, e confirmou que realizou as ligações embora não lembrar o teor das conversas. Os promotores querem então que a Policia Civil esgote esse pontos obscuros para poderem então, finalmente dar uma resposta para a sociedade.
Pais de Fernanda Lages: quem realmente merece uma explicação por parte dos promotores são eles
MAS E PORQUÊ TUDO ISSO SÓ AGORA?!
O que causa mais estranheza é que velhos fatos nunca antes investigados por eles vem a tona só agora. Pessoas que de fato tiveram contato com a jovem no dia da morte passam a ser alvo direto dos promotores, depois de dois anos da morte da estudante.
Pessoas como Pablo que antes era defendido e inocentado pelos promotores agora viram alvo. Pessoas que tiveram contato direto com a jovem horas antes da morte e que nunca foram investigados pelos promotores, como o advogado Daniel Said voltam a ser investigados.
Isso evidencia cada vez mais o quanto os promotores agiram de maneira equivocada no Caso Fernanda Lages ao dizerem que sabiam quem era o “assassino”. Agora parecem começar do zero e já passam a ser criticados. Ou seja: de super heróis, agora não são mais vistos nem como mocinhos. Perde-se a credibilidade com tanta contradição. E após realizada as quatro diligências que dirão os promotores? A Polícia Federal afirmou de forma incontestável que houve suicídio ou acidente. Resta aos promotores uma obrigação de provar tudo que afirmaram ou a grandeza de pedir desculpas à sociedade e, principalmente, à família de Fernanda Lages por tantas falsas esperanças rifadas sob inocentes.
Por:Â Allisson Paixão/180graus