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Mulheres ocupam apenas 14% dos postos mais altos nas universidades

“Temos um modelo acadêmico que não tem mudado há muito há séculos.

04/08/2014 | Edivan Araujo
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Somente 14% das vagas destinadas a professores catedráticos nas universidades da América Latina, Portugal e Espanha são preenchidas por mulheres. Visto como o auge da carreira acadêmica, para conseguir o posto de professor titular – nomenclatura mais utilizada no Brasil – é preciso comprovar notório saber, possuir uma vasta produção científica, experiência de ensino e passar nos concursos, geralmente comandados por homens.

O mais curioso é que a baixa presença de mulheres nesse altos cargos hierárquicos da academia não condiz com sua presença marcante no ensino superior, especialmente no ciclo da graduação. Isso porque, nessa fase, elas são maioria. Enquanto os homens representam 40% das matrículas, as mulheres preenchem 60% das vagas.

O problema começa a surgir após a graduação. No doutorado, por exemplo, o número de homens já é equivalente à presença feminina. A diferença se torna mais drástica quando analisado o perfil de gênero do total de professores vinculados às instituições ibero-americanas.

“Só 30% dos cargos de professores são preenchidos por mulheres e 14% são catedráticos, de alta hierarquia”, afirma José Narro, reitor da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam) – a “USP do México”.

Os dados repassados por Narro foram apresentados na última semana durante o III Encontro Internacional de Reitores Universia. Realizado no Rio de Janeiro, o evento reuniu mais de mil reitores da região, além de representantes de instituições norte-americanas, da Europa, África e Ásia.

Flexibiliação

Essa diminuição constante da presença feminina no decorrer da trajetória acadêmica pode ser controlada com a flexibilização das regras acadêmicas, especialmente para mulheres grávidas, afirma o presidente da Universidade Yale, Peter Salovey, um dos especialistas presentes na conferência Universia.


“Temos um modelo acadêmico que não tem mudado há muito há séculos. Precisamos ter modelos mais flexíveis de ensino superior, especialmente para mães que precisam criar seus filhos. Para diminuir o número de egressas, também temos que eliminar o abuso sexual”, diz Salovey.

Já para outro acadêmico presente ao encontro, vice-reitor da Universidade de Oxford, Andrew Hamilton, a garantia da presença feminina na academia passa, necessariamente, pelo combate ao “viés negativo” da sua presença nos altos postos das universidades.

“Existe um viés inconsciente para com as mulheres nos concursos. Em Oxford, temos trabalhado para combater isso”, fala Hamilton. Ao citar o termo “viés negativo”, o representante da prestigiada universidade britânica sugere que é preciso combater o preconceito sobre a capacidade das mulheres de liderarem instituições e preencherem postos-chave como pesquisadoras nas universidades.

Enquanto o acadêmico britânico cita a discriminação como entrave à evolução da carreira acadêmica entre as mulheres, o alemão Bernhard Eitel, reitor da Universidade Heidelberg, afirma que a questão “não é só de discriminação”.

“Precisamos nos preocupar com as famílias, nos concentrar no apoio familiar. Na nossa universidade, por exemplo, temos cerca de 300 apartamentos para que a aluna traga toda a sua família. Nós falamos para elas: tragam seus bebês, cuidamos dele até o seu doutorado. Com isso, estimulamos, inclusive, que suas filhas também sigam a carreira acadêmica”, explica Eitel.

Ciente da realidade desfavorável à mulher, o presidente da Universidade Nacional de Cingapura, Tan Chorh Chuan, diz que as instituições de todo o mundo precisam criar modelos “de boa prática” capazes de enfrentar a questão de gênero.

“Mas também temos de ter certeza que esses modelos serão implementados. As universidade precisam trabalhar para uma representação adequada de mulheres. Até porque, com o aumento da diversidade, aumenta as perspectivas, os ponto de vistas. E isso é bom para a instituição”, diz Chuan.

Brasil

O País não foge à regra dos números que englobam toda a região ibero-americana. Nos mestrados, por exemplo, as mulheres representam pouco mais da metade dos mestres do Brasil, desde 1997.

Por aqui, a situação se agrava porque as acadêmicas brasileiras chegam a receber, em média, 42% menos que os homens com a mesma titulação, segundo o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Para José Fernandes de Lima, presidente do Conselho Nacional de Educação (MEC), corrigir a baixa presença feminina na academia é uma “questão de tempo”.

“Sabemos que devemos trabalhar para que haja uma inclusão maior. Mas diria que isso é uma questão de tempo. Isso porque, com a aposentadoria de reitores e professores titulares, postos hoje ocupados por homens, teremos uma presença mais marcantes das mulheres, já que elas são maioria na graduação e mestrado”, projeta Lima.

Fonte: IG

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