O Jornal Nacional da última sexta-feira (05/12), mostrou a situação da saúde no município de Cocal, localizado na região Norte do estado e que desde o ano passado tem médicos estrangeiros atendendo os moradores. Ao todo são seis cubanos participantes do programa Mais Médicos, do governo federal.
Esse programa provocou muito debate desde o início e não só entre os políticos. Médicos brasileiros levantaram a questão da validade dos diplomas dos cubanos. E também alertaram para a falta de estrutura que qualquer profissional de saúde teria que enfrentar nos lugares menos favorecidos do país.
No ano passado, os repórteres foram a Cocal para ver como a população tinha recebido os dois primeiros doutores cubanos. E a recepção tinha sido muito boa, naquele primeiro momento. Pouco mais de um ano depois, o Jornal Nacional voltou à cidade para saber como andam as coisas.
Há pouco mais de um ano o médico cubano Osmayki percorre, quase todos os dias, nove comunidades rurais do município de Cocal.
“Nesta população encontramos muitas pessoas que estão com hipertensão, uma pressão alta, que eles não tinham conhecimento”, conta o médico.
De acordo com o Ministério da Saúde mais de 11 mil médicos cubanos trabalham, atualmente, em todos os estados do país. Municípios que não foram escolhidos pelos brasileiros no programa Mais Médicos.
Na primeira etapa, o Piauí foi o estado que recebeu o maior número de profissionais do programa. E hoje, a maioria dos municípios é atendida pelo Mais Médicos. São 317 profissionais, 281 deles cubanos. Seis estão em Cocal.
E o Jornal Nacional acompanhou o primeiro dia de trabalho deles na cidade, há pouco mais de um ano.
O que chama atenção hoje nos postos de saúde do município é que não há mais filas. Os moradores, sabendo que vão encontrar médico quase que todos os dias da semana, deixaram de vir durante a madrugada e todos de uma só vez.
"Hoje a gente vem sabendo que vai encontrar um médico e que vai ser atendido realmente, porque antes quando a gente vinha para o posto de saúde, chegava cedo e de repente nem o médico encontrava", conta a professora Aline Dantas.
Dona Francisca Messias da Silva é paciente do doutor Osmayki. E resume o sucesso do programa em Cocal.
“Desde o começo que ele passou o remédio para mim que eu tenho sentido melhora”, afirma a lavradora.
O que a gente vê um ano depois é que a presença dos médicos na cidade continua sendo aplaudida pelos moradores. Ou seja: os doutores cubanos do Mais Médicos estão aprovados. Mas quando você pergunta aos cidadãos se a saúde no município está funcionando bem, aí a questão da falta de estrutura fala mais alto.
Cocal só tem um hospital público para atender a população de pelo menos quatro municípios da região. São nove enfermarias com 28 leitos. Os funcionários lamentam o pouco que podem fazer pelos pacientes que chegam.
"A gente se sente meio mal, porque muitas vezes a gente vê uma pessoa morrendo sem poder fazer nada", diz Iraci Pereira Veras, técnica em enfermagem.
Não é possível fazer nenhum tipo de exame. O aparelho de raio-X está desativado. Uma das salas do centro cirúrgico é usada como depósito. Só é possível fazer pequenas suturas.
E essa é a rotina do hospital, quando chega um caso um pouco mais complicado os profissionais chamam a ambulância para transferir o paciente para um município vizinho, que fica a mais ou menos cem quilômetros de lá. Num dia mais movimentado esta ambulância chega a fazer cinco viagens.
A administração do hospital passou para as mãos da prefeitura de Cocal em 2009 dentro de um programa do estado de municipalização de unidade de saúde.
Cinco anos depois, as autoridades locais reconhecem que não tem dinheiro para melhorar o atendimento, mesmo com o repasse mensal de R$ 51 mil do estado. A diretora do hospital falou em nome da prefeitura.
"O município não tem condições de manter o hospital com urgência e emergência porque o custo é muito alto. E essa não é responsabilidade do município, é do estado”, afirma Inês Viana, diretora do hospital.
A prefeitura de Cocal afirma que já tentou várias vezes devolver a administração do hospital para o estado. Mas o governo do Piauí argumenta que, se assumisse o hospital, precisaria fazer a mesma coisa com os outros que foram municipalizados. E não teria dinheiro para isso.
Fonte: Com informações do Jornal Nacional