A substância apresentou resultados arrasadores em macacos: conseguiu proteger os animais de todas as cepas conhecidas do vírus da Aids. O processo foi descrito em artigo publicado nesta quinta (19) na revista Nature.
Como se fosse um pen drive infectado, o HIV se conecta às nossas células por meio de "plugues" que se encaixam em duas proteínas. Depois, "reprograma" o DNA de sua hospedeira, transformando-a em uma fábrica de novos vírus.
O que a nova vacina faz é se conectar ao HIV, ocupando os "plugues" do vírus pelos quais ele se anexaria às nossas células e neutralizando-os.
Terapia genética
Na verdade, o novo método de prevenção não é propriamente uma vacina, e sim uma terapia genética. Vacinas são tipicamente doses controladas de um determinado patógeno que estimulam o sistema imunológico a produzir substâncias para combatê-lo.
Este novo método não insere HIV atenuado em nosso corpo. Trata-se, na verdade, de uma molécula chamada eCD4-lg que se anexa ao HIV, impedindo-o de grudar nos glóbulos brancos.
Os cientistas plantaram vírus neutros, capazes de reprogramar nossas células para produzirem eCD4-lg, em quatro macacos.
Depois, expuseram os animais ao HIV em seis situações, sempre com doses cada vez mais enormes do vírus, ao longo de 34 semanas.
Nenhum dos macacos ficou infectado. Em compensação, outros quatro macacos não-vacinados acabaram com HIV.
Como relata o jornal New York Times, o próximo passo é testar a molécula em macacos já infectados, para saber se a terapia pode substituir os antirretrovirais, que impedem o vírus de continuar se replicando. Se funcionar, começam os testes em humanos.
Recepção
Existem algumas terapias de prevenção do HIV bastante consolidadas. É o caso do remédio Truvada, que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e está em testes no Brasil.
No entanto, elas demandam que o usuário tome os remédios com assiduidade, o que é impossível em comunidades que mal têm acesso a saneamento básico ou primeiros socorros. A nova vacina, além de prometer ser muito mais efetiva, necessitaria de apenas uma aplicação para imunizar o paciente.
Por isso, o artigo foi recebido de forma calorosa pela comunidade científica. No entanto, como lembra a BBC, não sabemos ainda quais são as implicações da nova abordagem a longo prazo.
No caso de uma vacinação clássica, o nosso sistema imunológico só reage quando é ameaçado por algum patógeno. Já com a terapia genética, nossos glóbulos brancos são transformados em fábricas que produzem uma molécula artificial 24 horas por dia. Por isso, a terapia ainda deverá passar por longos testes antes de chegar às populações infectadas.
FONTE: Brasil Post