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Como o São Paulo trocou um ano promissor por uma crise em 3 meses?

No fim de dezembro, 2015 se anunciava como um dos anos mais promissores da história recente do clube.

28/03/2015 | Edivan Araujo
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O São Paulo acabou 2014 na segunda posição do Brasileirão, chegou a sonhar com um título nacional e virou o ano classificado à Copa Libertadores e com o capitão Rogério Ceni desistindo da aposentadoria. No fim de dezembro, 2015 se anunciava como um dos anos mais promissores da história recente do clube.

Três meses se passaram e o São Paulo, hoje, enfrenta uma crise. Não consegue jogar bem, perdeu as partidas mais importantes da temporada, tem problemas internos e viu o técnico Muricy Ramalho flertar com a demissão nos últimos dias. Cenário totalmente inimaginável em dezembro, que se comprova cruelmente real no fim de março.

Não foi por acaso, no entanto, que o São Paulo promissor, de dezembro de 2014, se transformou no São Paulo da crise, de março de 2015. Alguns fatos explicam o que houve no clube nos últimos 90 dias.

Namorada do presidente

Entre o fim de dezembro e o início de janeiro o presidente Carlos Miguel Aidar teve de vir a público para explicar um contrato de comissionamento para sua namorada, a empresária Cinira Maturana, no qual esta teria direito a 20% de comissão sobre qualquer negócio que encaminhasse para o São Paulo. Em janeiro, a empresário pediu a rescisão do contrato.

Saída de Kaká

Desde o dia em que contratou Kaká por empréstimo, o São Paulo sabia que o perderia no fim do ano, para o Orlando City (EUA). Em campo, o meia veterano não demonstrou brilho técnico nem acumulou números grandiosos, mas foi o jogador mais importante da equipe mesmo assim. Serviu como líder para um time que precisava de uma figura de inspiração, fez com que Paulo Henrique Ganso copiasse seu jogo e melhorasse naturalmente, facilitou a adaptação de Pato e transformou, no dia a dia, o São Paulo em uma equipe que poderia competir com o Cruzeiro. Hoje, três meses depois de sua saída, Muricy Ramalho e elenco ainda dizem que falta um líder como ele no vestiário.

Saída de Alvaro

Carlinhos foi contratado no fim do ano de 2014. O reforço mostrou ao uruguaio Alvaro Pereira que ele não seria titular em 2015. Alvaro era tecnicamente pior até do que Reinaldo, fatalmente perderia o lugar entre 11. Somou alguns problemas pessoais e arrumou as malas para a Argentina. Hoje, principalmente após as derrotas em três clássicos, quem acompanha o dia a dia no departamento de futebol são-paulino admite que nesse momento Alvaro Pereira seria uma influência extremamente positiva no elenco. Ele não é melhor do que os que estão no clube, mas tem personalidade diferente.

Salários atrasados

Pela primeira vez em muitos anos, os salários atrasaram no São Paulo neste início de 2015. Parcelas em direitos de imagem ficaram até três meses atrasadas em alguns casos, e demorou-se mais de dois meses para efetuar o pagamento ao elenco pelo prêmio de classificação à Copa Libertadores. A diretoria, num primeiro momento, negou atrasos e deixou alguns jogadores aborrecidos. Depois, os problemas financeiros foram admitidos.

Reforços

Bruno e Carlinhos, os dois laterais contratados para serem titulares, têm jogado em nível abaixo do esperado. O lateral esquerdo Carlinhos ainda teve uma lesão que o impediu de jogar após a estreia no Paulistão. No ataque, Cafu parece cada vez mais longe da briga por uma posição e o argentino Centurión demorou para ser contratado - clube concentrava esforços na contratação de Dudu, que acabou no rival Palmeiras.

Azar em sorteio

Alexandre Pato é hoje o jogador mais importante do São Paulo, dentro de campo. Seu contrato só impede que ele jogue contra um clube: o Corinthians, que o empresta ao rival. E o São Paulo contou com o azar de ser sorteado no mesmo grupo do Corinthians na Copa Libertadores. Além de não poder escalar o atacante contra o rival no Paulistão, também o perdeu em duas das seis partidas da fase de grupos do torneio continental. O clube do Morumbi já jogou duas vezes contra o Corinthians em 2015, e perdeu as duas.

Muricy Ramalho

Além de todos esses problemas, Muricy Ramalho demora a conseguir estabelecer um padrão de jogo para o time. Como ele mesmo disse após a derrota para o Palmeiras, o time não jogou de fato bem em nenhuma partida desta temporada, ainda. O São Paulo parece não saber por onde a bola tem de caminhar e dificilmente se impõe de forma padronizada sobre os adversários. Agora, o técnico deverá promover mudanças e deixar para trás parte daquilo que tenta estabelecer na equipe desde a pré-temporada.

Torcida organizada

Dentro e fora do Morumbi, o São Paulo vive momento incomum com sua principal torcida organizada, que escolheu Muricy, o vice-presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro, o coordenador técnico Milton Cruz e o gerente de futebol Gustavo Vieira de Oliveira como culpados por uma má fase logo após a derrota para o Corinthians em Itaquera, na Libertadores. Depois, membros da organizada foram fotografados ao lado do presidente Carlos Miguel Aidar - também no Carnaval - e o próprio presidente causou incômodo ao atender um telefonema do presidente da torcida em frente às câmeras, durante uma entrevista no CT da Barra Funda. Mais tarde, o grande problema: a organizada foi convidada a acompanhar um treino de sábado, às vésperas de um cofronto contra o Corinthians, dentro do centro de treinamento. Diretoria de futebol e Murucy se irritaram e tiveram que levar a atividade para o Morumbi, para evitar que os torcedores ficassem próximos dos atletas e dos membros da comissão técnica.

Problemas internos

Muricy Ramalho escancarou o burburinho da crise são-paulina cinco dias depois de ver a organizada entrar em um treino do São Paulo. Afirmou publicamente que havia uma divisão interna, na diretoria, e que isso atrapalhava seu trabalho e o dos jogadores, no CT. Disse que sabe da existência de forças internas para derrubá-lo. No dia seguinte, o presidente Carlos Miguel Aidar emitiu uma nota na qual afirmou apoio integral ao treinador.

Estádio vazio

O São Paulo não vive boa relação com sua torcida, de modo geral. Vê uma média fraca de público no Morumbi e criou atritos depois de ser derrotado pelo Corinthians dentro de casa sob os olhares de inexpressivos 18 mil torcedores. Diretoria e elenco reclamaram, e fizeram nascer novos motivos para críticas.

Fracasso nos clássicos

O São Paulo não venceu clássicos em 2015. De quatro disputados, perdeu três - Palmeiras, uma vez, e Corinthians, duas vezes - e empatou um, contra o Santos. Para piorar, não fez gol em nenhum dos quatro jogos.

Fonte: UOL

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