POR JONAS FERNANDES
O LEGADO
Desde que foi anunciado que em 2014 sediaríamos a copa do mundo que alguns veículos de comunicação vêm alertando sobre o risco desse evento ter um custo gigantesco para o país e não deixar nenhum legado. É dinheiro que poderia promover uma verdadeira revolução em áreas que o país vem capengando há séculos.
Imagine toda essa dinheirama aplicada na construção de presídios e no fortalecimento da forças policiais. Certamente iríamos viver um verdadeiro salto quântico entre a realidade a que estamos submetidos e o alto nível que iríamos alcançar no quesito segurança pública. É apenas uma questão de fazermos as opções corretas na hora da investir o dinheiro do povo brasileiro.
Mas para além da segurança existem outras opções. Por exemplo: construir com todo o dinheiro que vão transformar em estádios, postos de saúde. Colocando-se mais um pouco de dinheiro, coisa que não é nenhum problema, pois em Brasília esse item não falta, daria para pagar melhor e ampliar o número de médicos e profissionais de saúde que trabalham com as famílias de baixa renda. Após isso talvez nós deixássemos de aparecer em estatísticas ridículas que nos colocam ao lado dos mais pobres países africanos quando falamos de IDH e outros temas relacionados à saúde e qualidade de vida. Bem, mas já está mais que claro que a maioria dos nossos congressistas nunca estiveram muito preocupados com questões de segurança e nem de saúde. O cotidiano de medo nas ruas e sofrimento nos hospitais é testemunha disso.
Mesmo que segurança e saúde não sejam temas tão interessantes assim, pelo menos para algumas pessoas, ainda haveriam alternativas a esse devaneio político-esportivo. Poderiam destinar esse dinheiro à construção de colégios, de universidades e à valorização dos profissionais de educação, eminentemente, o professor. Fazendo isso sim, estaríamos dando o verdadeiro grito do Ipiranga. Só que o eco desse grito atingiria mais de oito milhões e meio de quilômetros.
Um investimento em educação nos moldes do que vai ser feito para a realização da copa do mundo, acrescido de políticas públicas sérias e focadas, poderia representar uma vitória total e definitiva. Uma vitória não contra a Argentina, Alemanha ou qualquer uma das grandes seleções de futebol. Seria uma vitória contra o atraso, contra a pobreza, contra a falta de educação.
Mas venhamos e convenhamos: é essa a idéia? Solucionar problemas, fazer revoluções na segurança, na saúde, transformar a educação? Talvez o espetáculo que o circo esteja anunciando esconda muito mais por trás da cortina do palco. São bilhões e bilhões de reais.
Quando o assunto é dinheiro e ao número “1” acrescentam-se muitos zeros, na busca frenética por lucro as conseqüências perdem em importância para os meios. Se nesta equação se colocar as incógnitas políticas, as raízes podem se tornar infinitas.
Falar em legado da Copa do mundo é querer discutir o futuro. O imediatismo de muitos que nesse país se acostumaram levar vantagem rápida com a “coisa pública” não considera reflexões que envolvam o tempo. A copa mexe com nossa emoção. Segurança, saúde e educação com nossa razão. A razão é metida a ética, e ética não se paga na moeda corrente. Arquibancadas, gramados e contratos é mais prático e lucrativo.