Mesmo sabendo que Thiago*, seu colega de curso técnico, sentia atração por homens, Kaitissiane Teixeira de Andrade, 23, enfrentou o falatório da pequena cidade mineira onde mora para namorar o rapaz, com quem ficou por três anos e meio.
“Ele nunca escondeu isso de mim, e eu dizia que, se um dia ele resolvesse experimentar, eu entenderia e apoiaria. Achava que se ele não experimentasse para descobrir do que realmente gostava, nunca seria feliz”, fala.
Thiago* resolveu seguir o conselho da namorada quando eles ainda estavam juntos e, com a descoberta, chegou a propor uma relação a três, que inicialmente Katissiane topou.
“Eu o amava e nossa relação era muito boa. Ele era incrível, cavalheiro, romântico, preocupado e muito bom de cama. Era do tipo que sempre falava o que eu queria ouvir”, diz.
Thiago, no entanto, chegou à conclusão de que gostava apenas de homens e o namoro terminou. Hoje, os dois são amigos, e Katissiane não descarta se relacionar com outros gays. “Se o cara for interessante e se interessar por mim, por que não?”
Ao contrário do parceiro da mineira, o ex-namorado de Tatiana*, uma produtora paulistana de 28 anos era gay assumido quando os dois se relacionaram por quase um ano.
“Ele foi um dos melhores parceiros sexuais que tive. Era atencioso, preocupado que fosse uma boa troca de fato. Não tinha preguiça de entender que meu tempo era diferente. Eu me apaixonei e tinha ciúme de mulheres, mas acho que abstraía o fato de os homens também o atraírem”, conta Tatiana.
O sexo também foi o ponto forte na relação de Paula*, uma jornalista de São Paulo de 33 anos. Durante um intercâmbio na Europa, ela conheceu um polonês e, apesar de suspeitar que ele fosse homossexual, resolveu investir em um romance.
“Eu o achei interessante e não tinha certeza [sobre a orientação sexual]”, diz. A aventura foi compensada. “Tive uma das melhores relações sexuais da minha vida. O sexo com eles não é só penetração. É envolvimento, carinho, massagens. Fui surpreendida com alguns pedidos inusitados [dedo no ânus], mas nada que nunca tivesse acontecido com heterossexuais”, afirma.
Novos arranjos
Segundo a psicanalista Mônica Donetto Guedes, membro da Formação Freudiana --instituição de formação psicanalítica no Rio de Janeiro--, o sexo de fato é um atrativo para as mulheres que se relacionam com gays. Mas há também questões emocionais envolvidas.
“As motivações variam de acordo com cada indivíduo, mas dos relatos dessas mulheres é possível perceber que os homossexuais que as atraem são homens charmosos, elegantes, com ótimos gostos. Geralmente, elas os acham mais compreensíveis, amorosos, carinhosos e sedutores do que os héteros. Também é possível escutar que o envolvimento aconteceu em função da busca de uma relação na qual houvesse mais respeito às diferenças, mais diálogo, liberdade e parceria”, afirma Mônica.
Mas e o homem homossexual, qual será a razão que o leva a se relacionar com uma mulher? Liberdade com sua sexualidade, de acordo com a psicanalista Blenda de Oliveira, da PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
“Os homens gays, de modo geral, têm curiosidade e empatia com o feminino, mas não é regra. Depende do nível de liberdade com o qual lidam com sua homossexualidade. Aqueles que são mais tranquilos e já ultrapassaram as dificuldades de aceitação, principalmente familiar, podem transitar pelo feminino e masculino com naturalidade”, afirma Blenda.
Para a psicanalista Mônica, a sexualidade e o desejo vão além da anatomia corporal. “Quando se trata de encontros amorosos, a questão da escolha está para além da anatomia dos corpos. Os tempos atuais favorecem novos arranjos amorosos. Permite que os indivíduos explicitem sem culpa ou, ao menos, sem repressão seus desejos sexuais.”
*Nomes trocados a pedido das entrevistadas.
Fonte: Com informações do UOL