A família do jogador Valter Maranhão procurou a direção do Hospital de Urgência de Teresina, após desconfiar de uma suposta venda de órgãos. A dúvida começou após uma mulher, que se identificou como assistente social, teria insistido para que a família autorizasse a doação.
Valter Maranhão teve morte encefálica confirmada na última quarta-feira (12). No entanto, segundo a filha do jogador, Suellen Maranhão, a assistente social estaria tratando sobre a doação dos órgãos com a esposa de Valter desde a segunda-feira (10). “Ela é amiga de uma pessoa próxima da família. Achamos que ela poderia agilizar algumas coisas, como exames e atendimento, mas aconteceu tudo isso”, conta Suellen.
A mulher, que não trabalha no HUT, mas sim no gabinete de um deputado estadual, teria enfatizado que a doação é um gesto muito bonito e que já tinha algumas pessoas esperando para receber os órgãos. “Ela citou uma criança de cinco anos, um bebê de seis meses e um rapaz de 14 anos. Este receberia o rim”, conta Suellen.
Diante da desconfiança, a família procurou o hospital e decidiu não fazer a doação. “Na terça-feira pegamos o boletim médico bem completo e foi explicado direito qual era o procedimento. Não doamos porque meu pai teve uma infecção que prejudicou alguns órgãos, e também nos sentimos inseguros e desconfiados”, relata Suellen.
A família ainda não decidiu se vai formalizar a denúncia. “Nós estamos vivendo o luto. Essa história tomou proporções muito grandes e temos que avaliar com a nossa advogada”, disse a filha do jogador.
Segundo o diretor do HUT, Gilberto Albuquerque, o caso está confuso e precisa ser devidamente esclarecido. “Não faz sentido alguém comprar órgão no Brasil, porque as equipes que fazem a captação, o transporte e o transplante são independentes. Elas não sabem quem são o doador ou o receptor”, disse o médico.
Gilberto acredita que houve um mal entendido provocado pela abordagem errada dessa mulher à família. “No HUT existem oito pessoas responsáveis somente pela doação de órgãos. Eles buscam potenciais doadores, esperam o momento adequado, conversam com a família, preparam as pessoas e explicam todo o processo. Nada é feito em corredor de hospital”, explica Albuquerque.
Uma sindicância foi aberta pelo HUT para descobrir qual era a verdadeira intenção dessa assistente social ao procurar a família e tratar sobre doação de órgãos, quando o hospital tem uma equipe que faz esse trabalho.
O hospital de manifestou por meio de nota. Confira na íntegra:
Com relação as matérias veiculadas na imprensa sobre a doação de órgãos do paciente Valter Lima Vieira, 60 anos, que foi a óbito na última quinta-feira (13), às 13h20, a direção do Hospital de Urgência de Teresina (HUT) informa que já abriu sindicância para apurar os fatos relatados pela família e já encaminhou ordens expressas vetando a entrada da pessoa identificada como “Conceição”, em denúncia feita também à Ouvidoria do HUT pela família.
Segundo o depoimento dos filhos de Valter, Conceição foi contatada por uma amiga da família no intuito de acompanhar o atendimento no HUT. Conceição se identificou como assistente social da Assembleia Legislativa.
A direção do HUT esclarece que essa pessoa não possui nenhum vínculo com o Hospital. Portanto, não tem autorização de falar em nome do HUT sobre qualquer tipo de assunto, inclusive no que concerne ao estado de saúde de pacientes ou tratamentos/procedimentos realizados.
Com relação ao processo de doação de órgãos o HUT comunica que os trâmites seguidos obedecem à legislação federal. A Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do HUT é formada por profissionais especializados e comprometidos com a ética e a lisura exigida pelo trabalho desenvolvido. A CIHDOTT nunca autorizou ninguém a tratar do assunto com familiares de pacientes do Hospital.
O Hospital esclarece ainda que o processo de doação de órgãos só se inicia após o fechamento do protocolo de morte encefálica, a confirmação de ausência de atividade cerebral e a autorização da família. Apenas familiares de primeiro e segundo graus, além dos cônjuges podem assinar os documentos autorizando a doação. Após o cumprimento deste trâmite, a CIHDOTT do HUT aciona a Central de Transplante e a Organização da Procura de Órgãos (OPO), que iniciam o processo de captação com as equipes autorizadas.
Fonte: Nayara Felizardo / Portal O Dia