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Após enfrentar doença grave e perda da mãe, piauiense é orgulho na canoagem

O piauiense de Picos vivia desde os 16 seu sonho de ganhar a vida como dançarino e, há dois anos, trabalhava com cantor Frank Aguiar.

12/09/2017 | Edivan Araujo
Luís Carlos Cardoso: de dançarino aos títulos mundiais / Foto: Graziella Batista / Mpix / CPB

O atleta Luis Carlos Cardoso, um jovem piauiense de 25 anos que descobriu a paracanoagem e que hoje é um grande destaque no esporte. Em entrevista realizada pelo site Esporte de Fato ele contou como uma doença mudou sua vida e como se superou, se tornando um orgulho para o estado.

O piauiense de Picos vivia desde os 16 seu sonho de ganhar a vida como dançarino e, há dois anos, trabalhava com cantor Frank Aguiar. Um dia, começou a sentir dores e descobriu que um parasita havia se instalado em sua medula espinhal. Ficou paraplégico.

Para mim foi complicado porque as minhas pernas eram o meu instrumento de trabalho. Foi algo que me tirou o que eu mais gostava de fazer, que era dançar. E eu só choravaLuís Carlos Cardoso, atleta

Para piorar, poucos dias depois do diagnóstico, sua mãe morreu. Na fisioterapia para recuperar alguma mobilidade na cadeira de rodas, descobriu a paracanoagem.

“Jamais imaginei que me tornaria um atleta de alto rendimento”, explica Luis Carlos, que em mundiais acumula desde 2012 uma prata e quatro ouros na canoa e dois bronzes e um ouro no caiaque, fora as diversas conquistas em pan-americanos, sul-americanos e brasileiros.

Depois de uma participação um tanto frustrante em sua estreia olímpica nos Jogos Rio 2016, onde era uma das grandes esperanças brasileiras de medalhas e terminou a prova de velocidade KL1 200 m em quarto lugar, o piauiense segue cada vez mais embalado. Aos 32 anos, acaba de se consagrar como o grande destaque Campeonato Brasileiro de Paracanoagem, em Curitiba, onde levou as medalhas de ouro nas finais das categorias KL1 200m e 500m, ambas no caiaque, além também do título na VL1 200m, na canoa. No final de agosto, já havia conquistado o tetracampeonato mundial na prova VL1 200 m ao arrebatar o ouro no Mundial em Racice, na República Tcheca, além do bronze nos 200 metros da categoria KL1. “Quer estar em Tóquio em 2020”, avisa o atleta.

Confira a entrevista do Esporte de Fato:

Como o dançarino profissional encarou o fato de se tornar paraplégico?
Virei dançarino no auge da axé music no Brasil. E dancei com o Frank Aguiar por dois anos. Foi uma das fases melhores da minha carreira como dançarino. Considero o Frank Aguiar não apenas como um ex-patrão, mas como um pai, por tudo que ele fez por mim não só na fase em que dançava quanto na fase em que mais precisei dele. No dia 11 de dezembro de 2009, no meu aniversário de 25 anos, dei entrada no pronto socorro em São Bernardo do Campo sentindo fortes dores pelo corpo. Essas dores, dias depois, me deixaram paraplégico, somente conseguindo movimentar cabeça, ombros e braços. Fui transferido para um hospital para uma investigação mais profunda e constataram que um parasita da esquistossomose se alojou na minha medula, deixando-me sem movimentos. No início foi bem difícil, por causa dessa transição, principalmente pela rotina que eu tinha antes. Eu era dançarino profissional e dançava profissionalmente há nove anos. De uma hora para outra, se ver em uma cadeira de rodas era algo inimaginável. Somente quem vive sabe o que significa. Mas felizmente eu não entrei em depressão e naquele momento me apeguei muito a Deus. Para piorar a situação, minha mãe faleceu poucos dias depois de eu ficar paraplégico. Passei a cuidar mais do meu lado espiritual, porque sem ele não teria forças para seguir em frente.

Como a paracanoagem surgiu em sua vida?
Foi em 2011, por meio da fisioterapia. No início eu fui mais pensando na minha reabilitação e jamais imaginei que me tornaria um atleta de alto rendimento. Eu sempre quis dar o meu melhor e esse melhor aconteceu no campeonato brasileiro de 2011, onde pude conquistar uma medalha de bronze e uma medalha de prata. Essa prata me colocou na seleção brasileira em 2012, quando pude disputar meu primeiro campeonato internacional – o Pan-americano do Rio de Janeiro, onde conquistei meu primeiro ouro.

Qual foi seu momento mais emocionante no esporte?
São vários momentos importantes. Um deles foi em 2015, em Milão, na Itália, quando conquistei duas medalhas de ouro, uma no caiaque e outra na canoa. Principalmente pelas circunstâncias. Até então eu estava me preparando apenas para a canoa, mas infelizmente no começo daquele ano decidiram que apenas o caiaque estaria nos Jogos Paraolímpicos do Rio. Com toda a dedicação e a ajuda do meu treinador Akos Angyal, consegui conquistar aquela medalha no caiaque com apenas seis meses de treino!

No ano seguinte, sua participação nos Jogos Rio 2016 não correspondeu às expectativas. O que aconteceu?
Não fiquei feliz com o resultado porque tinha capacidade suficiente para ganhar. Tanto que, na minha eliminatória, eu ganhei com um tempo muito bom. Mas a canoagem tem isso. Nunca sabemos como vai estar o clima no dia da competição. As Paraolimpíadas do Rio de Janeiro para mim foram algo maravilhoso. Não só por serem os meus primeiros Jogos Paraolímpicos, mas principalmente por ser em casa. Pude ter meus familiares na arquibancada e isso vai ficar marcado na minha memória pelo resto da vida. Não imaginava que os Jogos do Rio seriam algo tão extraordinário quanto foi.

Muitos atletas olímpicos e paraolímpicos brasileiros perderam patrocínios após os Jogos Rio 2016. Como foi com você?
Recebo o Bolsa Pódio do Ministério do Esporte e faço parte do Time São Paulo, do governo paulista. E também tenho empresas que me apoiam, como Dr. Shape Suplementos, Pedrinho Bancos, Espaço Sônia Mesquita e Restaurante O Rei do Abadejo. Eles é que me ajudam a evoluir no meu dia a dia como atleta. Meu objetivo é estar nos Jogos de Tóquio, em 2020. Já venho fazendo esse trabalho com meu treinador, revendo os erros e buscando acertar cada vez mais.

 

Fonte: Com informações do Esporte de Fato

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