Por Bárbara Rodrigues
“Quero simplesmente que ela tenha o direito de estudar”, foi assim que a mãe Anikele Santos, de 37 anos, se manifestou sobre os desafios que tem enfrentado para conseguir que a filha Naiara Beatriz, de 16 anos, que possui artrogripose múltipla congênita (uma má formação que provoca deformidade nos membros), consiga concluir os estudos. A estudante cursa o 2º ano do Ensino Médio.
Por ter atrofia nas pernas e nos braços, Naiara Beatriz usa uma cadeira de rodas motorizada para se locomover. Em busca de terminar os estudos, a jovem moradora do loteamento Cidade Sul, região do bairro Porto Alegre, na zona Sul de Teresina, precisa se locomover até um ponto para pegar o ônibus escolar, só que muitas vezes não consegue entrar no veículo, pois a plataforma de elevação da cadeira emperra. Quando o veículo quebra, a estudante e a mãe enfrentam uma estrada vicinal por 2,5 quilômetros para chegar até a Unidade Escolar Professor Auristela Soares, no bairro Porto Alegre, onde ela estuda desde o ano passado.
“A gente já vem enfrentando esse problema, há um ano, que é desde que ela começou a estudar lá. O problema sempre foi o mesmo. Eles mandam transporte escolar, mas são ônibus sucateados. Às vezes, quando chega, dá problema na rampa. Aí temos que ir a pé. O único lugar que dá para gente ir é por dentro é uma estrada, tipo carroçável, que inclusive teve um dia que a cadeira dela furou o pneuzinho da frente e eu tive um prejuízo enorme. Ainda estou pagando os prejuízos anteriores, então isso é um constrangimento que a gente vem passando. Já tá com mais de um ano, e eles não resolvem, às vezes o ônibus quebra e eles já vão avisar tarde da noite e a gente tem que se virar para ir à escola, ou então quebra mesmo de manhã, às vezes quando ele chega aqui já aconteceu de quebrar e ficamos nessa situação”, lamentou.
Foto: Arquivo Pessoal
Além do problema no transporte, a mãe também luta por mais acessibilidade na unidade escolar. Ela conta que a escola está em situação precária e a falta de rampas dificulta a locomoção da adolescente.
“A infraestrutura da escola também está horrível. Tem problema de pane elétrica, fizeram só uma rampa assim 'meia boca', disseram que iriam providenciar as outras rampas, pois ela não consegue ir ao banheiro, é altamente complicado para ela poder usar porque não tem um banheiro acessível”, criticou.
O Cidadeverde.com entrou em contato com a Secretaria de Educação do Estado (Seduc) que informou que solicitou à empresa que faz o transporte dos estudantes que faça a troca do ônibus. Em relação à reforma da escola, a Seduc destaca que a unidade tem uma reforma prevista para iniciar. Mas, ainda não informou a dada de início.
Fotos: Seduc
Sempre lutando para que a filha tenha uma vida melhor, ela lamentou que tenha que enfrentar tantas dificuldades para que Naiara Beatriz consiga ter os seus direitos respeitados.
“Eu tenho uma personalidade muito forte, mas, às vezes, os constrangimentos abalam a pessoa, porque, poxa, você acordar 5h da manhã, se arrumar, tudo naquela expectativa de ir à escola, e aí simplesmente a pessoa diz, que não está funcionando o elevador do ônibus. Você fez todas as suas atividades matinais, para ir estudar, e simplesmente um problema desse impede você de ir, fica complicado uma situação dessa. É um constrangimento assim que, nem pagando, você não consegue apagar aquela imagem, aquele momento”, lamentou.
Como mãe, ela disse que apesar das dificuldades, não irá desistir que sua filha consiga concluir os estudos.
“A minha filha tem 16 anos, a deficiência dela é artrogripose múltipla congênita, ela já foi gerada assim, aí nessa deformidade ela tem problemas nas pernas e nos braços também, pela má formação congênita, por isso ela escreve com a boca. Ela está cursando 2º ano do ensino médio e é altamente inteligente, já passou em concursos de redação a nível nacional, tem medalha de quando ela estudava na rede municipal e agora vem enfrentando essa dificuldade na rede estadual. A gente luta pelo direito dela, que é estudar, direito de ir e vir. Se a gente às vezes tem dificuldades, imagine ela que possui essa condição. Então quero simplesmente que ela tenha o direito de estudar, de ser uma pessoa formada, de ter uma formação, de buscar mais ainda os direitos dela e que o futuro dela seja um pouco melhor do que as condições que a gente vem enfrentando”, destacou Anikele.
Como precisa se dedicar à filha, Anikele Santos não possui um emprego fixo, e se dedica o máximo possível para dar uma vida digna à adolescente.
“Sou técnica de enfermagem, mas não exerço a profissão. Fiz para poder lidar com alguns problemas que ela possa vir a passar. E assim, eu faço bicos aqui próximo de casa. Eu faço capina para poder complementar a renda. Somos só nós duas, mas às vezes as coisas apertam. Porque tem a questão de medicamento. Ela tem essa cadeira motorizada que a gente conseguiu pelo SUS, mas toda peça dela é a gente que tem que arcar e são caras. A gente se desdobra de todo jeito. Eu me sinto triste, porque eu só quero o que é de direito dela, nada mais. A gente se sente muito constrangido. Tudo que a gente faz, a gente paga imposto, e quando é para realmente os direitos da pessoa ser garantido, não são. Eu fico triste, mas às vezes, mesmo você já desmoronando, tenho que buscar força para ela continuar, que o futuro dela será brilhante, com certeza, com fé em Deus”, declarou.
Fonte: Cidadeverde