Matéria / Cidades

Trânsito: Samambaia, uma comunidade sob o medo da morte

13/07/2012 |
/

Ouvir o cantar de pneus de uma freada abrupta, um barulho seco provocado por metal retorcido ou gritos desesperados de vizinhos, tornou-se quase uma rotina vivida pelos moradores do bairro Samambaia, em Picos.


A BR 407, que corta o bairro, tem sido palco de uma variedade de acidentes que vitimam todos os anos crianças e adultos. Mas ao contrário de outros trechos de rodovia federal que adentram a zona urbana de Picos, como a BR 316, a 407, no perímetro que compreende o bairro em questão, não oferece nenhum tipo de sinalização de advertência para condutores de veículos motorizados com exceção de duas placas fixadas próximo à entrada do Clube dos Professores: uma de velocidade máxima permitida (80 km/h) e outra de ultrapassagem proibida.


No trecho mais perigoso, onde existe um ponto de travessia usado por crianças que vão para a escola, três pessoas já morreram. A comunidade deixou de contabilizar os acidentes que não resultaram em morte. A dona de casa Marina Batista relata que pais e mães vivem sob o domínio do medo. “Se uma das crianças vai para o comércio ou a escola a gente já fica preocupada e fica tremendo se ouve uma freada de carro”, explica.



Do outro lado da rodovia, o comerciante Antônio João da Costa partilha da mesma opinião. “Vemos muitos animais na pista, mas o mais necessário é a sinalização que não temos”, diz ele. Ao seu lado, outro morador confirma a necessidade. Sua filha de 9 anos entrou para o rol das vítimas fatais de trânsito há três anos. Ela ia para a escola quando foi colhida por um veículo que passava exatamente no ponto de travessia onde não há qualquer tipo de sinalização de advertência.


A escola municipal Francisco Jeremias de Barros abriga 185 crianças e adolescentes que têm, na sua maioria, que cruzar a BR todos os dias. Ao lado da escola funciona o posto de saúde do bairro, local onde os profissionais que lá trabalham, já estão habituados a receber vítimas de acidentes para troca de curativos. Mas até entre os funcionários do posto de saúde o infortúnio já bateu à porta. A funcionária Francisca Maria Veloso foi uma das últimas vítimas de acidente de trânsito. Há dois meses, ela, seu esposo Daniel da Silva Rêgo e a filha de quatro anos estavam em uma moto na BR 407 sentido Junco quando um veículo bateu violentamente na traseira da moto. A filha do casal teve morte instantânea e os pais ficaram hospitalizados durante dias e ficarão com sequelas físicas.


O Código de Trânsito Brasileiro prevê que, em locais de travessia de pedestres, existam placas de sinalização de advertência. O capítulo VII, artigo 85, reza que “Os locais destinados pelo órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via à travessia de pedestres deverão ser sinalizados com faixas pintadas ou demarcadas no leito da via”. Especialistas em legislação de trânsito a quem foram apresentadas as imagens do trecho da rodovia abordado nessa reportagem foram unânimes na mesma opinião. No local devem ser fixadas placas de sinalização de advertência que identifiquem para os condutores de veículos motorizados a passagem de pedestres e de estudantes, além da faixa de pedestres nas proximidades do colégio. Eles também concordam que deve ser instalada uma lombada para que haja a redução de velocidade dos veículos que por lá passam.


Este final de semana o estudante de direito Fernando Henrique Araujo Sousa, 22, entrou para as estatísticas de fatalidade da BR. O carro em que estava saiu da pista e capotou no mesmo trecho. Ele morreu na hora.


A reportagem não conseguiu manter contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT). Enquanto nada é feito para sinalizar a rodovia, a população de Samambaia continua a viver sob o signo do medo da morte e espera, em vão, que o próximo acidente não aconteça. Eles reivindicam das autoridades de trânsito a instalação urgente da sinalização com o fim de reduzir os acidentes no bairro.


Luciano Barbosa

Facebook