“Observatório das Migrações em São Paulo (Fases e Faces do Fenômeno Migratório no Estado de São Paulo)”, este é o tema da pesquisa que vem sendo desenvolvida pelo núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas – SP.
Entre os dias 02 e 14 de julho a cidades de Picos e Jaicós receberam a visita de Lidiani Maciel, Doutoranda em Ciências Sociais pela UNICAMP, e Giovana Pereira, Acadêmica de Ciências Sociais pela mesma universidade, que estão pesquisando sobre a migração de piauiense, especialmente da cidade de Jaicós, para o município de Matão, em São Paulo, cuja migração é destinada ao trabalho na colheita de laranja.
Dentre as fontes pesquisadas está a Diocese de Picos e o Bispo Diocesano dom Plínio José Luz da Silva, que desde o início da estiagem que atinge o estado do Piauí vem caminhando ao lado das famílias mais pobres e também mais atingidas pela ausência de chuva, cobrando das autoridades competentes ações que em curto prazo amenizem o sofrimento destas famílias e em longo prazo, previnam repetição desta realidade a partir de políticas públicas de convivência com a seca.
Entre as inúmeras consequências da estiagem, está a migração para outros estados em busca de emprego, de maneira a garantir a sobrevivência das famílias, principalmente daquelas que vivem a base da agricultura, cuja produção foi dizimada diante da ausência de chuvas. Esta preocupação e outras, também são retratadas no documento que os Bispos do Piauí entregaram ao Governador do Estado do Piauí, o Exmo. Sr. Wilson Martins durante reunião realizada no Palácio Episcopal de Teresina.
Durante visita à Paróquia Nossa Senhora das Mercês, em Jaicós, dom Plínio José encontrou comunidades quase vazias, principalmente de homens, que haviam deixado suas famílias em busca de trabalho na safra de laranja, em Matão-SP.
Com dom Plínio José, em Picos.
Instigadas por este fenômeno migratório, as pesquisadoras da UNICAMP viajaram até o Piauí para descobri o que provoca esta migração, como explica a doutoranda Lidiani Maciel:
“A gente trabalha com duas perspectivas, as causas e as motivações. Dentro das causas, que a gente pontua muito a macroeconomia do processo, nós pudemos identificar tanto na primeira fase da pesquisa, que foi realizada na cidade de Matão com migrantes jaicoenses e piauienses, quanto aqui (no Piauí) com essa nossa ida a curta estada, que uma das motivações é a falta de políticas públicas direcionadas a essas populações que dentro deste quadro, somado à questão ambiental faz com que essa população busque outros espaços onde possa reproduzir a sua vida”, afirma.
Para chegar até os jaicoenses, Giovana Pereira informa que universidade firmou uma parceria com a Secretaria de Assistência e Bem-Estar Social do município de Matão que realizou em 2011 um levantamento a partir das indicações funcionais da secretaria e da Pastoral do Migrante indicando as principais origens dos migrantes trabalhando na cidade, sedo criado um banco de dados.
No sábado, 14 de julho dom Plínio José e o Pe. Espedito Oliveira, Pároco de Jaicós, acompanharam as duas pesquisadoras até à comunidade Esquisito, município de Jaicós, onde acontece fortemente esta incidência da migração para Matão. Na oportunidade, as pesquisadoras ouviram relatos das poucas famílias que ficaram na comunidade, também apresentaram dados sobre a pesquisa e realidade de Matão.
“Matão é uma cidade de 78 mil habitantes, segundo o censo de 2010, é uma cidade pautada agroindústria, nós temos lá a maior produtora de suco de laranja para exportação, e a dinâmica matonense é a seguinte, este suco é produzido pensado no mercado externo, a indústria citrícola acontece a partir de uma crise que acontece nos Estados Unidos, que era o maior produtor, começando a indústria citrícola no Brasil por volta dos anos 60. Ela tem esta mão de obra porque é barata, pois estas pessoas estão saindo daqui de uma condição de vida bastante precária. Quando ela chega lá - diferentemente da cana-de-açúcar, onde há uma diferença entre trabalhadores rurais, do cortador de cana-de-açúcar e do colhedor da laranja, ambos são trabalhos pesados, mas o cortador de cana-de-açúcar tem um vínculo maior com a empresa de assistência, ele tem um alojamento, muitas vezes os contrato é feito aqui no Nordeste- enquanto que na laranja as pessoas se deslocam até lá para serem contratadas, e não há alojamento na laranja”, explica Giovana Pereira.
Giovana acrescenta que algumas famílias já conseguiram se estabelecer em Matão, estando inclusive em moradias de melhor estado, no entanto, destaca o perfil da migração permanentemente temporária, que é um conceito da Dra. Maria de Morais Silva (Professora da Universidade Federal de São Carlos), “pessoas que tem a vida dividida entre espaço e tempo, elas ficam no ir e vir constante, ou seja, é o que acontece com a população jaicoense, principalmente do interior de Jaicós”, afirma.
Lidiani Maciel destaca outra problemática desta migração, que ela chama de rearranjos familiares. “Outro aspecto é o caso dos rearranjos familiares que envolvem essa migração, a gente sabe que diferentemente da cana, a migração de piauienses para a colheita da laranja tem um caráter familiar, e o grande problema é que chegando a Matão, encontrando essa dificuldade em se alojar na própria cidade - pois estão inseridas em um mercado imobiliário altamente especulativo - muitas dessas famílias acabam mandando as crianças de volta, muitas vezes por ônibus em condições não legais, então o que a gente pode explorar disso é que essas crianças vêm para o Piauí, passam a ser cuidadas por suas avós, mas esse processo do ir e vir é constantes e as famílias vão ficando cada vez mais desagregadas, uma parte no lá e outra parte no cá, e a gente sabe as consequências disso para a formação da própria criança”, aponta.
Lidiani, Geovana, Pe. Espedito e membros da comunidade Esquisito, em Jaicós.
As pesquisadoras também destacaram a sobrecarga social que acontece com a chegada da população flutuante à Matão, e ressaltam a necessidade de políticas públicas tanto do estado que envia, quanto do que recebe.
“Interessante pensar o processo a partir das várias vias, entre as perguntas que fazemos desde o início que começamos tocar este projeto é por que estas pessoas saem? Como elas saem? E como elas estão sendo abrigadas lá? Pois também existe uma questão política por trás de todo esse processo. A gente pode pensar em algumas hipóteses como o empobrecimento da zona rural, uma zona rural que é seca, que tem políticas públicas não tão bem definidas para permanência desse agricultor, e redes diversas familiares e de contratação que atuam na procura desse trabalho por várias cidades brasileiras”, afirma Lidiani Maciel.
Após visitar a comunidade Esquisito, as pesquisadoras participaram do jornal na Rádio Educativa Cultura Fm, levando ao conhecimento de mais pessoas a importância dessa pesquisa, os riscos, urgências e benefícios encontrados no processo migratório de piauienses para São Paulo.
Na Rádio Cultura FM