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Daniel Solon: “Radical hoje no Piauí é a desigualdade social que existe”

09/03/2014 | Edivan Araujo
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Criado há 20 anos, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) é citado por boa parte da imprensa e até de cientistas políticos, como radical de esquerda. “A gente acha que mais radical hoje no Brasil e no Piauí é essa desigualdade social que existe”, diz o professor universitário, jornalista e servidor público Daniel Solon. Ele diz que a democracia no Brasil hoje é falha, pois é injusta e desigual. Ele defende o financiamento público de campanha e lamenta que hoje os candidatos são, na verdade, “produtos, feitos praticamente em laboratório, em estúdios de TV e vendas publicitárias, com discursos muito enxutos, muito bonitos, com grande aparato tecnológico, com muito tempo de TV e com muito dinheiro para abusar economicamente durante o processo eleitoral”. Sobre a situação política atual do Brasil e as eleições de 2014, Daniel Solon concedeu à seguinte entrevista a O DIA: 
O PSTU completa agora vinte anos, um partido de longa duração, mesmo assim não tem nenhum representante na Câmara dos Deputados, no Senado, nos governos e nas prefeituras, enquanto que partidos criados recentemente já têm muitos representantes. Você acha que o PSTU não está atingindo a população com sua mensagem, ou é o partido que é seletivo? 
Na verdade, o que acontece é que nós vivemos em uma democracia falha. O sistema democrático brasileiro é muito injusto e desigual. Basta ver que o tempo na TV que temos é muito inferior ao PT e ao PSDB. Na última campanha nós tivemos menos de um minuto. Isso já cria uma dificuldade de passar uma mensagem, de explicar as nossas propostas. Também tem outra questão que é a possibilidade hoje de existir campanhas empresariais. São candidatos hoje que são produtos, feitos praticamente em laboratório, em estúdios de TV e vendas publicitárias, com discursos muito enxutos, muito bonitos, com grande aparato tecnológico, com muito tempo de TV e com muito dinheiro para abusar economicamente durante o processo eleitoral. O que existe hoje são grandes empresas financiando candidatos, existindo também a compra de votos e o abuso do poder econômico e PSTU não vai entrar nessa ciranda para eleger candidatos. Queremos sim eleger deputados, senadores, governo, mas isso vai acontecer sem que a gente venda o nosso partido, sem que a gente traia os princípios que a gente defende. 
Você falou que existe a pretensão de eleger candidatos. Candidatos à presidência da república também? 
Sim, nós temos plena clareza da dificuldade que é isso: eleger um deputado, um senador e eleger, principalmente, um presidente. Mas a gente vai para a disputa, mostrar uma alternativa de poder para a classe trabalhadora, para a juventude e para o povo pobre. É nesse sentido que a gente tem lançado um chamado nacional por uma frente de esquerda envolvendo PCB, PSOL e PSTU e o nosso pré-candidato é o operário Zé Maria, presidente nacional do PSTU. Isso quer dizer que vai ser ele o candidato? Não. A gente está lançando a candidatura para dialogar, assim como estamos fazendo aqui no Piauí. O nosso nome foi lançado para dialogar também com esses partidos e ver se é possível avançar numa frente de esquerda. 
Como está sendo feita a articulação com os outros partidos de esquerda aqui no estado? Já está sendo conversado? Quais são os partidos? 
A gente sabe que não é fácil fazer uma frente de esquerda. Existem grandes diferenças entre os partidos, diferenças como na discussão do próprio financiamento de campanha, que nós defendemos a exclusão de qualquer possibilidade de empresas se envolverem nesse financiamento. A gente tem diferenças programáticas, no sentido do que é mais emergencial para o estado. Sabemos que existem disputas também entre os partidos, com o PSOL, com o PCB em movimentos sociais, mas ao mesmo tempo a gente sabe que não é só uma tarefa que deve ser só do PSTU, tem que haver a unidade. Um esforço necessário, inclusive de humildade e serenidade para compreender que nesse momento, que estão sendo colocados dois grandes blocos, que divergem apenas pela disputa da cadeira, mas que têm o mesmo projeto. É necessário que a gente avance na tentativa de formar uma frente. Uma frente que avance com respeito aos programas de cada um dos partidos, as diferenças que existem em cada um, mas que aponte uma saída socialista e de esquerda para o Piauí. E a gente vê por exemplo que existe muito em que avançar. As mobilizações de junho colocaram na ordem do dia as necessidades da população, como a questão da saúde pública, da educação pública, do transporte público. E essa frente de esquerda sendo formada tem que ir na defesa dessas questões.

Fonte: Jornal O Dia
Repórter: Francicleiton Cardoso

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