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Motivos pro fim de Jesus Rodrigues: W.Dias é quem manda e desmanda!

09/03/2014 | Edivan Araujo
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Sabe-se, de há muito, que o Piauí é visceralmente por oligarquias. De tempos em tempos, surgem e ressurgem. Basta que algum partido chegue ao poder para que se instale o desejo de construir a sua própria forma de dominação familiar. Foi assim com Leônidas Melo, nos anos 30 e 40; Pedro Freitas, nos anos 50; Petrônio Portella, nos anos 60 e 70; Hugo Napoleão, nos anos 80: Mão Santa, na década de 90; e, finalmente, com Wellington Dias a partir de 2003.

O senador petista até que resistiu consideravelmente. Em 2002 e 2006 permitiu apenas a candidatura de seu amigo do pleito e irmão camarada Assis Carvalho, que foi diretor do Detran/PI, presidente da Agespisa e secretário de Saúde. Em 2010, ao sair do governo, estimulou a candidatura de sua mulher, Rejane Dias, que obteve 55.177 votos. Ela declarou à Justiça Eleitoral, naquele ano, gastos de R$ 553,180 mil.

Agora em 2014, Rejane decidiu que seria candidata a deputada federal, mesmo com seu marido tencionando disputar o mandato para governador. Ele já está em campanha há pelo menos um ano. Como de costume, o PT silenciou. Quando se trata de Wellington Dias, a conversa é outra. Tudo se faz em seu nome, inclusive contradizer a história do partido, que se notabilizou, em outros tempos, como crítico ferrenho das oligarquias.

'OLIGARQUIA NUNCA MAIS?'
Quando Mão Santa indicou em 94 seu irmão Paulo de Tarso para a Secretaria de Fazenda a gritadeira foi geral. Em 2000 o então prefeito de José de Freitas, Pedro Paulo, que era do partido, indicou o pai como chefe de gabinete. Foi expulso da agremiação. Nem mesmo o atual aliado Ciro Nogueira foi dispensado. Em 94, quando seu pai, já falecido, Ciro Nogueira, desistiu de seguir na vida, passando-lhe o bastão como deputado federal, os petistas, por meio do próprio Wellington Dias, apontaram a incoerência da "reserva de mandato". Era, segundo ele, a oligarquia em estado pleno. Foi com esse discurso, também, que ele combateu a candidatura reeleitoral de Hugo Napoleão em 2002.

Em carta ao PT, Jesus admite que desiste e alfineta Rejane e W.Dias: 'Toda unanimidade é burra'Em carta ao PT, Jesus admite que desiste e alfineta Rejane e W.Dias: 'Toda unanimidade é burra'

'NEM AÍ' PARA JESUS RODRIGUES
Mas, como se percebe claramente, os tempos são outros. O deputado federal Jesus Rodrigues foi o único a desafinar do coro dos contentes. Em janeiro ele divulgou um artigo no qual reclama do privilégio atribuído a certas candidaturas proporcionais. Se o marido será candidato a governador, evidentemente que a candidatura proporcional de sua mulher será contemplada. Nem que seja indiretamente. Wellington Dias nem qualquer outro companheiro lhe deram a mínima atenção. Neste sábado (08/03), Rodrigues tomou uma decisão que abala profundamente a credibilidade do PT e a própria campanha para governador no pleito 2014. Renunciou à condição de candidato à reeleição e apontou dois motivos que batem diretamente com os nomes da preferência do senador. Um deles é a questão econômica. Comenta-se, nos bastidores, que está no PT o candidato com maior quantia em dinheiro para ser aplicada nesta campanha eleitoral. O outro é a questão familiar. O PT, segundo ele, é um partido que tradicionalmente sempre combateu a formação de oligarquias. Ele jamais se prestaria ao papel de contribuir para a formação de uma.

Rejane e Wellington Dias: negócio dele é eleger ela; ignoram JesusRejane e Wellington Dias: negócio dele é eleger ela; ignoram Jesus

SURGE A 'OLIGARQUIA VERMELHA'
O discurso de Jesus Rodrigues mostra certa altivez, mas ele também participou da chamada "oligarquia vermelha", pelo menos na opinião do professor universitário e cientista político Cléber de Deus, da Ufpi (Universidade Federal do Piauí). Cléber afirma que a administração petista foi oligarquizada em várias vertentes, partindo-se do próprio então governador, por meio de seus familiares e amigos próximos; do secretário de Educação, Antonio José Medeiros, que era secretário, deputado federal, tinha um cunhado vereador (Décio Solano) e contribuiu para a eleição de outro para deputado estadual (Merlong Solano); de Jesus Rodrigues, que era diretor do Detran/PI e tinha uma prima, Flora Izabel, como deputada; do secretário de Fazenda, Antonio Rodrigues Neto, que colocou a mulher, Rosário Bezerra, na Câmara Municipal de Teresina.

W.Dias com Chico Antonio quando foi eleito prefeito: petistas em festa...W.Dias com Chico Antonio quando foi eleito prefeito: petistas em festa...

E APARECEM NOVOS 'OLIGARCAS'
Sem contar que vários dos aliados de Wellington Dias e seus secretários foram premiados com mandatos de prefeitos municipais, a exemplo de Chico Antonio, em Esperantina; e José Barros, em União. Nos escalões inferiores do governo na época notava-se ainda a presença de vários pequenos oligarcas, como o professor Wellington Soares, que era coordenador estadual de Comunicação, sua mulher, Lucíola, trabalhava como secretária executiva do Palácio de Karnak, e sua outra cunhada, Lucile, era a toda poderosa presidente da Emgerpi, a supersecretaria do executivo estadual, marcada por inúmeros escândalos.

No Facebook, petistas mostram que não estão tão preocupados com Jesus não...No Facebook, petistas mostram que não estão tão preocupados com Jesus não...

QUEM MANDA NO PT É O CLÃ W.DIAS
Sem dinheiro e sem prestígio, restou a Jesus Rodrigues uma saída que ele considera honrosa: desistir da candidatura reeleitoral. Seus companheiros não se fizeram de rogados. No mesmo sábado em que a carta foi encaminhada ao diretório regional, Wellington Dias aparece numa foto em rede social posando ao lado do ex-vereador Décio Solano e informando que ele será candidato em lugar de Jesus Rodrigues (existem especulações de que seria o próprio Merlong Solano). Ou seja, ninguém deu a mínima ao clamor do companheiro. Tanto que os dois aparecem felizes e sorridentes como se a atitude de Jesus Rodrigues os tivesse livrado de um fardo. O que Wellington precisa é apenas dos votos de legenda para garantir a eleição de sua mulher. Para isso, Décio Solano serve muito bem e Rodrigues é plenamente descartável.

Regina Sousa vai aparecer muito na mídia esta semana tentando explicar decisão de Jesus RodriguesRegina Sousa vai aparecer muito na mídia esta semana tentando explicar decisão de Jesus Rodrigues

'PT NÃO ESTÁ VENDO ESSE ERRO TERRÍVEL?'
Talvez por isso ele tenha se decidido, segundo informações de bastidores, em articular seu apoio para um candidato de outro partido. No caso, o médico cardiologista Paulo Márcio, que concorrerá à Câmara Federal pelo PMDB com apoio direto do provável futuro governador Zé Filho. Mas o parlamentar não será único em desistir de concorrer. Outro que se apresenta na lista de desistência é Nazareno Fonteles, pelas mesmíssimas razões.
Jesus Rodrigues recebeu a solidariedade vários companheiros, a exemplo de Djan Moreira, conselheiro tutelar. Ele disse que está de luto com a decisão, mas a respeita em reconhecimento a ombridade do deputado. O vereador Tony Santos, de Santa Filomena, afirma: "Não, esta cena só pode ser fictícia. Deputado, o PT não está vendo o erro de omissão que está cometendo? Perder um deputado do seu nível é causar grandiosos prejuízos ao povo do Piauí e abrir espaço para o atraso. Estou indignado!".

Carta de Jesus Rodrigues para o PT anunciando sua desistênciaCarta de Jesus Rodrigues para o PT anunciando sua desistência

GESTO DE JESUS É ELOGIADO ATÉ POR TUCANO
Até mesmo dirigentes de partidos adversários se pronunciaram, como o presidente do PSDB em Teresina, ex-vereador Chico Wilson, que declarou o seguinte: "Na condição de dirigente partidário de um partido inclusive adversário ao dele, não me sinto confortável eticamente para comentar sua decisão. Gostaria apenas de dizer que aumentou mais ainda a admiração que tenho pelo deputado Jesus Rodrigues. 'Eles' (os dirigentes petistas) nunca imaginariam que o distinto parlamentar colocasse seus valores morais acima das conveniências políticas."

Repórter: Toni Rodrigues/180graus

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