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PT recebe propina desde 2004, afirma dono da construtora UTC em delação

Segundo Ricardo Pessoa, relação com o partido é antiga e remonta 1992

12/09/2015 | Edivan Araujo
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O dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, disse aos procuradores que integram as investigações da Operação Lava Jato, que paga propina ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde o ano de 2004. A fala do empresário consta em um dos depoimentos do acordo de delação premiada, que ele firmou com o Ministério Público Federal (MPF), após ser preso na sétima fase das investigações, em novembro de 2014.

Segundo Ricardo Pessoa, em 2004 ele começou a pagar propina ao partido. No entanto, foi a partir de 2008 que funcionários da Petrobras começaram a cobrar valores da construtora que ele comanda. O depoimento foi tomado em maio deste ano, mas só agora apareceu em um dos processos da Lava Jato.

O presidente da UTC afirmou que mantém relações com o PT desde 1992, quando a construtora ainda era controlada por outra empreiteira investigada na Lava Jato, a OAS. Segundo Pessoa, desde aquela época a UTC fazia doações espontâneas ao partido. No entanto, a partir de 2004, as "contribuições" passsaram a ser atreladas a contratos da empresa com o poder público federal. O empresário afirmou que o pagamento de propinas de contratos com a Petrobras começou com a construção da plataforma petrolífera P53.

No início, disse o empresário, os valores eram depositados diretamente para o PT, como doações legais, no valor de 1% dos contratos firmados com a Petrobras. No entanto, a partir de 2008, funcionários da estatal começaram a fazer cobranças também. Ricardo Pessoa citou os nomes do ex-diretor de Serviços Renato Duque e do subordinado imediato dele na área, o ex-gerente Pedro Barusco.

Ainda segundo Ricardo Pessoa, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto também o pressionava a pagar a propina para o PT. Ao longo de 10 anos de pagamentos, entre doações oficiais e entregas de dinheiro vivo, o empresário afirmou ter dado mais de R$ 20,5 milhões para o partido.

Nos depoimentos, Pessoa também falou das relações que manteve com Duque, Barusco e Vaccari. Ele afirmou que quem indicou Duque para o cargo de diretor da Petrobras foi o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que também foi preso na Operação Lava Jato. Conforme o empresário, Duque chegou ao posto pulando cargos dentro da estatal.

Sobre Vaccari, Pessoa disse que o ex-tesoureiro sempre ia conversar com ele já sabendo do andamento das obras que a UTC mantinha com a Petrobras, cobrando exatamente a propina que era devida. Esses pedidos de propina cresciam sempre quando se chegava próximo ao período de campanhas.

Por vezes, disse o executivo, Vaccari pedia dinheiro em espécie, por fora. Pessoa afirmou não saber porque essas solicitações eram feitas pelo ex-tesoureiro. Ainda sobre o perfil de Vaccari, o dono da UTC afirmou que ele era "PT na testa", "sindicalista", um "soldado do partido", que queria manter o PT no poder.

Outro lado

A defesa do ex-ministro José Dirceu reafirmou que ele não foi responsável pela indicação de Renato Duque à diretoria da Petrobras. Segundo a defesa, isso já foi dito publicamente pelo próprio Renato Duque.

O Partido dos Trabalhadores reafirmou que todas as doações recebidas pela legenda foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral.

A defesa de João Vaccari Neto disse que as afirmações de Ricardo Pessoa não são verdadeiras e reafirmou que o ex-tesoureiro jamais recebeu ou pediu dinheiro proveniente de propina. Os advogados falaram ainda que todos os pedidos de doações feitos por Vaccari enquanto era tesoureiro do PT foram legais, com depósitos na conta bancária do partido e declaradas às autoridades.

O ex-gerente de Serviços Pedro Barusco diz que confirma todas as declarações que já prestou no acordo de delação premiada firmado com o MPF. O advogado de Renato Duque não foi encontrado para comentar as declarações de Ricardo Pessoa.

Fonte: Com informações do G1

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