Matéria / Polícia

PI: Mãe de menino Eduardo se irrita com inquérito: 'não vai ficar barato'

Terezinha quer esclarecimentos da Polícia Civil sobre o crime. Polícia agiu em legítima defesa

04/11/2015 | Edivan Araujo
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Após a conclusão do inquérito sobre o assassinato do menino Eduardo de Jesus, a mãe do menino, Terezinha Maria de Jesus, disse nesta quarta-feira (4) que está inconformada e fará de tudo para que o crime não fique impune.

“Essa conclusão está totalmente errada. Eu não estou gostando nada disso e vou fazer de tudo para esses policiais pagarem pelo que fizeram com o meu filho. Isso não vai ficar barato. Eles tiraram o meu filho do meu braço e vão falar que foi legítima defesa? Como que pode ser legítima defesa se o meu filho estava de costas para eles?”, disse Terezinha.

O resultado do inquérito que investigou a morte de Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, apontou que o menino foi morto na porta de casa por um tiro disparado por policiais durante tiroteio no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, no dia 2 de abril. Como os PMs que faziam parte da operação entraram em confronto com traficantes e o garoto ficou na linha de tiro, as investigações consideraram que os agentes atuaram em legítima defesa e, portanto, não foram indiciados no inquérito, encaminhado ao Ministério Público. A informação foi obtida com exclusividade pela GloboNews nesta terça-feira (3).

Terezinha disse ainda que irá pedir uma nova investigação. Inconformada, a mãe do menino diz que irá buscar esclarecimentos da Polícia Civil.

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“Ele é mais uma vítima. Eu não vou deixar o cirme do meu filho ficar em vão. Eu quero conversar com o delegado e vou pedir uma nova investigação. Essa justiça só funciona para filho de preto e pobre. Eu não estou mais acreditando em polícia. Ele [o delegado] menitu pra mim, ele disse que ia punir os policiais. Só porque meu filho era filho de pobre eles não vão ser punidos?”, disse.

Sete meses após a morte de Eduardo, a mãe do menino lamentou ainda a saudade filho. Para ela, a mudança para o Piauí foi boa, já que lá ela pode estar perto do túmulo do filho. “A saudade fica o tempo todo. Fica a falta do meu filho. Em compensação, quando eu ia ao cemitério eu ficava mais calma pertinho dele”.
Anistia diz que conclusão de inquérito é uma 'aberração
A Anistia Internacional afirmou nesta terça-feira (3) que a conclusão do inquérito sobre o assassinato do menino Eduardo de Jesus é uma aberração.

"É uma verdadeira aberração. Este fato reitera a percepção de que as favelas são vistas e tratadas como territórios de exceção e que qualquer morte provocada pela polícia pode ser legitimada pelo sistema jurídico", analisa Atila Roque, Diretor Executivo da Anistia Internacional.

A Anistia Internacional afirmou também que apurou as circunstâncias do episódio e disse que no momento em que Eduardo foi morto não havia confronto ou troca de tiros. Eduardo estava sentado na frente de casa, esperando a irmã e brincava com o celular quando foi atingido. Os policiais militares ainda tentaram modificar a cena do crime, retirando o corpo, o que só não ocorreu por mobilização da família e vizinhos.

A Anistia Internacional disse que espera que o Ministério Público rejeite a conclusão equivocada do inquérito e que os autores do homicídio sejam responsabilizados.

Família está "inconformada"
O defensor público Fábio Amado, representante da família do menino Eduardo de Jesus Ferreira, refuta o resultado do inquérito entregue ao Ministério Público (MP).

"A família já havia sido informada previamente sobre o resultado do inquérito e ficou bastante inconformada", disse Amado. Não se conformam. Não é admissível que um crime como esse permaneça sem a identificação do autor e sem uma resposta que possa gerar efetivamente um sentimento de justiça.”
O defensor contesta a versão de legítima defesa. "Em tese, a legítima defesa exclui a ilicitude do fato. Mas nesse inquérito há depoimentos divergentes. A narrativa sustentada desde o início pela família é a de que não havia traficantes na área. E, ainda que tivesse, não se espera que um agente do estado dispare e cometa essa ilegalidade", afirmou o promotor.

Fábio Amado espera que o MP denuncie o caso como homicídio doloso.

"Precisamos aguardar a manifestação do Ministério Público, que pode solicitar novas diligências no local e pode, inclusive, denunciar, porque ele não está restrito à conclusão do inquérito policial", esclareceu Fabio Amado.

Para ele, a denúncia como homicídio doloso permite que o direito à defesa dos policiais militares seja preservado, pois eles poderiam se defender em juízo.

"Caso os PMs sejam denunciados, eles vão poder apresentar, em juízo, as suas provas para sustentar a tese de legítima defesa", concluiu o promotor.

Fonte:G1

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