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História de Chico Borges: morreu em estrada que ele lutou para recuperar

O político estava a caminho de casa antes de realizar o sonho, mas o destino lhe tirou a vida

02/01/2017 | Edivan Araujo
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Por Jhone Sousa

“E agora? Perdi meu filho”. A pergunta do homem que já passou dos seus 80 anos reflete o que de pior pode passar um pai ou uma mãe: perder um filho. Isso vai contra a natureza, afinal, o ‘certo’ é que primeiro morram os pais, depois aqueles que eles geraram. Mas para seu Raimundo Borges só restava lamentar. Aquele era para ser um dia de muito orgulho, mas se transformou no pior dia da sua vida. Pior até quando perdeu sua esposa, há mais ou menos 20 anos. Seu ‘caçula’, Chico Borges, de 42 anos, iria tomar posse como prefeito naquele dia, o político estava a caminho de casa antes de realizar o sonho, mas um grave acidente lhe tirou a vida, deixando toda uma cidade desolada.

Chico Borges nasceu no dia 04/10/1974 no pequeno povoado chamado Lagoa dos Marcelinos, município de Santana do Piauí. Anos depois a família mudou-se para Picos, 26 km de onde moravam, para que ele e seus quatro irmãos estudassem. Francisco Raimundo de Moura, seu nome de batismo, em homenagem ao anto protetor dos animais e ao seu pai, completou o ensino médio naquela cidade e começou a se dedicar ao trabalho.

Começando aos poucos, vendia produtos no mercado de Picos, até que se tornou um respeitável comerciante, que trazia verduras de Juazeiro (BA). Casou três vezes, do último separado recentemente e não tem filhos.

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NASCE UM LÍDER POLÍTICO
Em 2008 se candidatou pela primeira vez a um cargo político, foi quando foi eleito vereador pelo PSB com 274 votos, sendo o quarto mais votado. Em 2011 ele assume a presidência da Câmara de Vereadores apenas por um ano. Em 2012 se reelege pelo PSB com 377 votos, primeiro lugar disparado. Em 2013 assume mais uma vez a presidência da Câmara, reelegendo-se para o ano seguinte, até que decide se candidatar a prefeito em 2016, agora pelo PTB.

Cheio de planos para o município, Chico teve que enfrentar o então prefeito da cidade, Ricardo (PMDB), que tentava a reeleição e já havia sido seu aliado político. A disputa pela prefeitura foi ferrenha e Chico contava com o apoio do senador Ciro Nogueira (PP) e o secretário Nerinho (PTB) para ganhar a eleição.

Foto: AgoraED
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ELEIÇÃO APERTADA
No dia 2 de outubro, após a votação ser encerrada, a apuração foi tensa. Chico e Ricardo seguiam empatados, uma hora um passava, depois voltava, mas até o final o duelo foi complicado. O petebista ganhou. enfim, por nove votos e a comemoração tomou conta da cidade. Os dias seguintes foram de muito trabalho. Um dos seus sonhos era construir a sede da Prefeitura, que não possui local próprio, além de permitir que a população usufruísse com dignidade dos serviços públicos como saúde e educação.

No dia 31 de dezembro de 2016 Chico Borges acompanhou a virada do ano em Santana do Piauí. Muito animado com a posse no dia seguinte, cuidava dos últimos preparativos para a solenidade e convidava a população para participar. Segundo pessoas próximas, ele não bebeu naquela noite e ficou em Santana até o início da manhã, quando foi para casa do seu pai em Picos.

Foto: AgoraED
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A ESTRADA DA SUA MORTE
A PI-375, que liga Picos a Santana do Piauí, tem um trecho de 18 km em condições inadequadas. São buracos em todo trajeto que inclui curvas fechadas e a ausência de acostamento. Por volta de 5h ele fazia o percurso que conhecia muito bem, passou por ali incontáveis vezes. Mas por um motivo ainda não tão claro, naquela manhã, o dia mais esperado da sua vida, ele foi parar na contramão, colidindo de frente com ônibus que vinha de Picos, morrendo no local. Alguns dizem que ele tentou desviar de um buraco, não dando tempo de voltar para o outro lado da via, outros dizem que o sono pode ter contribuído com o acidente. A verdade foi levada com ele para o túmulo.

Em vida, Chico Borges também lutou pelo recapeamento da via que já fez várias vítimas fatais. Vereadores afirmam que ele já havia conseguido que a obra fosse viabilizada, mas não houve tempo para evitar sua morte. A repercussão do fim da sua vida logo tomou conta do noticiário nacional.

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PERDA IRREPARÁVEL
“Para o município de Santana é uma perda irreparável, era uma pessoas humilde. Para mim, além de político, a gente tinha uma relação bem estreita de amizade. Era um ser humano incrível, uma pessoa que fazia o bem sem olhar a quem, dentro das possibilidades ajudava todo mundo. Na família, ele era o filho mais novo, mas era a base, a família vivia em torno dele”, diz o primo Ricardo da Lagoa, vereador e primo do prefeito morto.

O lamento do pai não cessa e o legado de Chico Borges fica para a eternidade, não pelo que fez ou o que deixou de fazer, mas pela lição de que sua morte representa: amanhã pode ser tarde, o bem precisa ser feito hoje.

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Fonte:180graus

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