De acordo com o documento, "o ato criminoso tinha como objetivo favorecer Carlos Augusto de Almeida Ramos mediante a sua soltura".
Trata-se do caso de suposta chantagem feita por Andressa sobre o juiz Alderico Rocha dos Santos, o responsável pela ação penal decorrente da Operação Monte Carlo, que prendeu Cachoeira em 29 de fevereiro.
Em 26 de julho, Andressa esteve no gabinete do juiz em Goiânia. Segundo o magistrado relatou à PF e ao Ministério Público Federal, a mulher de Cachoeira tentou constrangê-lo, na tentativa de conseguir a revogação da prisão preventiva do marido.
Segundo o relatório, Andressa anotou em um pedaço de papel o nome de pessoas que estariam com um suposto dossiê montado por Cachoeira com informações contra o juiz. O documento só não seria divulgado caso o magistrado determinasse a libertação do empresário.
TESTEMUNHA
Além de Alderico Santos, a PF ouviu uma funcionária da Justiça que presenciou o início da conversa entre os dois. A PF fez um exame da letra no papel entregue ao juiz e concluiu que não havia "sinais indicativos de que tais manuscritos questionados tenham sido produzidos por outro punho que não o de Andressa Alves Mendonça".
A PF diz que Andressa teve acesso a informações sobre o juiz Alderico que não estavam disponíveis em fontes de consulta aberta.
Para a polícia, "resta claro" que alguém repassou as informações a ela. Andressa visitou Cachoeira no presídio da Papuda, em Brasília, na véspera da audiência com o magistrado.
O Ministério Público solicitou à PF busca e apreensão na casa de Andressa, o que ocorreu em 30 de julho.
Foram apreendidos papéis e computadores. A polícia também obteve as imagens das câmeras de segurança de Andressa entrando no gabinete de Alderico.
O relatório e o despacho de indiciamento da PF foram enviados ao Ministério Público Federal, que poderá denunciar Andressa à Justiça.
Isso ainda não ocorreu, pois a Promotoria aguarda o fim das perícias feitas pela PF no computador dela.
Os peritos vasculham documentos que podem ter sido deletados com palavras chaves como dossiê.
ACUSAÇÃO
Segundo o relatório da PF, "no contexto das provas produzidas, os indícios apontam para uma conclusão segura e correta da veracidade dos fatos tais quais narrados pelo juiz federal Alderico Rocha dos Santos".
Andressa foi indiciada por corrupção ativa. Mesmo não tendo oferecido dinheiro ao juiz, a PF considerou que a "vantagem indevida" estava caracterizada pela proposta de não divulgar o suposto dossiê em troca da liberdade de Cachoeira.
"A vantagem não econômica pode surtir mais efeito às pretensões do responsável pela conduta do que se tivesse algum conteúdo patrimonial", diz o relatório policial.
OUTRO LADO
O advogado de Andressa, Ney Moura, diz que o indiciamento "é fruto de mera perseguição" contra sua cliente.
Segundo o advogado, se tivesse ocorrido algum crime, o juiz teria prendido Andressa em flagrante, o que não ocorreu.
"O próprio juiz Alderico, no ofício que mandou ao Ministério Público Federal, remetido à PF, e que deu causa ao indiciamento, informa que Andressa teria, tão somente, tentado constrangê-lo sem conseguir, porque as suas palavras não tinham idoneidade para intimidá-lo", disse o advogado. "Tanto que ele não se sentiu intimidado. Tanto isso é verdade que ele, juiz experimentado e experiente, renomado professor de Direito, não a prendeu em flagrante delito."
Para o advogado, o indiciamento foi feito para "criar mais um factóide", visando prejudicar Andressa.
O advogado disse que, "se agir com isenção, com seriedade, com atenção ao que relatado no ofício do juiz Alderico, e com respeito ao Código Penal, o Ministério Público deve pedir o arquivamento do inquérito".
Fonte: UOL