Matéria / Geral

Pesquisa mostra que 54% das mulheres sofrem episiotomia; deve ser abolida

04/06/2014 | Edivan Araujo
/

Além das alarmantes taxas de cesáreas no país, a pesquisa Nascer no Brasil, divulgada na semana passada, mostra que entre as entrevistadas que tiveram parto normal, 53,5% sofreram episiotomia, o corte entre a vagina e o ânus dado supostamente para facilitar a saída do bebê durante o parto. Assim como as cesáreas, a OMS (Organização Mundial da Saúde) não recomenda que o procedimento seja feito rotineiramente como tem acontecido no Brasil.

Profissionais que atendem suas pacientes e seus bebês de forma humanizada já aboliram a prática que, em 1999, foi descrita pelo médico americano Marsden Wagner, da OMS, como a “mutilação genital feminina”. Na semana passada, o Ministério da Saúde publicou uma portaria onde dá incentivos financeiros para os hospitais que não fizerem a prática e adotarem outras medidas para permitir respeito à parturiente e que torne o parto o mais natural possível.

A médica Melania Amorim diz que eliminou o procedimento há 12 anos e pede desculpas para todas as mulheres que foram cortadas por ela. Ela diz que vários estudos mostram que a episiotomia traz mais prejuízos do que vantagens. “A única maneira de termos um períneo íntegro é não fazendo a episiotomia”, comenta.

Mulheres que foram cortadas durante o parto relatam problemas na relação sexual e comparam a episio a um estupro por terem o órgão dilacerado (leia relatos abaixo).

As parturientes contam ainda a dor que sentiram. Por muitas vezes não serem anestesiadas, elas relatam a dor do corte feito com tesoura ou bisturi e ainda de cada um dos pontos dado durante a sutura. “Essa é uma marca que vai ficar para sempre. É a marca de uma cesárea vaginal. A sensação da mulher é de ser desrespeitada, violentada”, comenta. Hoje em dia mulheres têm entrado com ações na justiça pois a episiotomia, sem o consentimento da paciente, pode ser considerada violência obstétrica.

Melania diz que a prática passou a ser adotada de maneira rotineira em todo mundo nas décadas de 1940 e 1960. “Existia a crença de que a episio encurtava o trabalho de parto e isso contribuiu para difundir o procedimento já que as maternidades começam a seguir linha de produção com um parto atrás do outro”, comenta. Ou seja, o parto deixou de ser um evento natural e passou a ser um processo patológico que necessitava de intervenção obstétrica para evitar ou reduzir complicações.

A MBE (Medicina Baseada em Evidências) mostra que sem a episiotomia a perda de sangue é menor e que é mais fácil reparar lacerações espontâneas que normalmente são menores do que o corte da episiotomia. “A episio já é uma laceração de segundo grau”, explica.

Muitos médicos, diz a obstetra, fazem a episiotomia pois foram ensinados a fazer na faculdade e na residência. Ela diz que muitos profissionais de saúde acreditam que o corte reduz laceração grave e mantém a integridade do assoalho pélvico. “Não há nenhuma evidência falando dos benefícios, mas de prejuízos”, explica Melania sobre estudos disponíveis, desde 2000, na Biblioteca Cochrane. Mas, por que tantos médicos ainda fazem? Para a obstetra, os motivos principais são: desconhecimento das evidências e a fala “eu faço porque sempre fiz assim”.


Fonte: Com informações da Folha de São Paulo

Facebook