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Compulsão, o desejo sem medida

Quando em excesso e de maneira frequente, hábitos e manias podem ser indício de alguma doença

26/10/2014 | Edivan Araujo
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Sábio é o ditado: “cada um com a sua mania”. Afinal, seja roer as unhas, comer chocolate todos os dias, acordar só com o pé direito ou dar aquela espiada a cada dez segundos no celular, todo mundo tem a sua. Mas fique atenta. Quando excessivos e repetitivos, alguns hábitos podem indicar doenças.

A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 120 milhões de pessoas sofram com algum tipo de compulsão. O psiquiatra Douglas Calderoni, médico da clínica Sintropia, explica que tais comportamentos são preocupantes. “Principalmente quando proporcionam prazer ou alívio imediatos, seguidos de culpa e prejuízos físicos, sociais, mentais e/ou financeiros”, salienta.

Em um cenário mais grave, as compulsões podem, inclusive, ser classificadas como parte de um Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Nele, ocorrem também as obsessões, que são ideias, pensamentos ou impulsos causadores de ansiedade e angústia.

Olhe para si

Álcool, drogas, alimentos, compras, trabalho, jogo e sexo. Esses são os principais elementos apontados em estatísticas sobre o tema, nos quais as pessoas mais extravasam suas compulsões.

No entanto, a loucura da vida moderna manifesta vários outros. “Hoje, muita gente é acometida por novos processos compulsivos, especialmente ligados à tecnologia, como internet, celulares e videogames”, conta o psicólogo Vinícius Fontes. Até em joguinhos as pessoas estão viciadas.

Alessandra Artigoso, 31, foi uma das vítimas. Tristeza para ela era pouco. “Quando caiu minha ficha, não esperei a segunda-feira para começar a dieta”, diz. Com muita perseverança, venceu sua compulsão por comida. Em cinco meses, a analista comercial perdeu quase 16 kg. Mas, como acontece na maior parte dos casos, não foi fácil.

“Para identificar a doença, o mais importante é perceber o conflito do indivíduo e das pessoas ao seu redor. Se há sofrimento e, ainda assim, não se consegue mudar de conduta, algo está errado”, ensina Fontes.

O primeiro passo é que o paciente faça um trabalho de autoconhecimento, se conscientize do problema e queira enfrentá-lo, como fez Alessandra. Logo em seguida, busque ajuda especializada. A partir daí, a compulsão passa a ser tratada como patologia.

Olhe ao seu redor

Estabelecer metas de curto prazo também é fundamental. As pequenas vitórias do dia a dia auxiliam no combate ao problema, bem como a ajuda de amigos e familiares. Em muitos casos, o alerta precisa vir de fora.

Foi o que aconteceu com Eveline da Silva, 32, quando convidou a amiga para conferir uma liquidação de roupas. “Ela surtou”, lembra-se. A técnica em enfermagem desenvolveu uma compulsão por compras que durou muitos anos e lhe rendeu maus bocados.

Foi apenas com o auxílio da amiga, que a jovem enxergou a doença. “Tinha sete cartões de crédito, conta em várias lojas da cidade e, apesar de já não mais conseguir pagá-las, continuava comprando. Eu gastava quatro vezes o meu salário ao mês”, desabafa.

A compulsão por compras é uma doença e tem até nome: oniomania, como já contou a blogueira Renata Deos.

Um dia após o outro

Acredite se quiser, mas a primeira medida que Eveline tomou foi congelar seus cartões no freezer, do jeitinho que viu no filme “Os Delírios de Consumo de Becky Bloom”, baseado na série de livros “Shopaholic”, da escritora britânica Sophie Kinsella.

Depois, buscou terapia e, aos poucos, juntou dinheiro para quitar as inúmeras dívidas. “Acho que hoje estou bem, mas minha amiga continua a pegar no meu pé”, brinca.

Apesar de todo o esforço, Eveline aprendeu a principal lição para qualquer compulsivo: sabe que essa é uma batalha diária, na qual já conseguiu grandes avanços, mas está longe de ser vencida. “As conquistas vêm a cada dia”, ensina.

Fonte:Uo (Foto:Getty Images)

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