As divergências políticas dentro do PMDB sobre o “timing” do desembarque do governo Dilma Rousseff também atingem as discussões da plataforma econômica para um eventual governo de Michel Temer. Nos últimos dias, o documento “Uma ponte para o futuro” se tornou uma armadilha política nas mãos do PT, que explora alguns pontos. Nos bastidores, aliados de Temer como o senador Romero Jucá (PMDB-RR) ficaram irritados com as frequentes declarações de Moreira Franco — braço-direito do vice e presidente da Fundação Ulysses Guimarães — sobre pontos polêmicos. O próprio Temer, segundo interlocutores, não discute medidas pontuais agora, porque anteciparia etapas, ou seja, antes de haver de fato um novo governo.
Temer acredita que o maior objetivo de um eventual governo seu é recuperar a credibilidade da economia. Nas conversas, o vice fala sobre a importância de controlar e cortar gastos, por exemplo. O documento “Uma ponte para o futuro” é considerado uma carta de intenções, ponto de partida para o debate no Congresso. Muitos acreditam que é preciso evitar, neste primeiro momento, propostas mais polêmicas como a reforma trabalhista.
O documento, divulgado em outubro de 2015, propõe o fim das indexações, seja para salários, benefícios previdenciários ou outros gastos do governo. Essas propostas são usadas pelo PT como arma para desgastar Temer.
A preocupação de aliados é que Temer seja prejudicado por propostas polêmicas nesse momento de costuras políticas. A insatisfação de parte do PMDB se tornou pública após parlamentares petistas passarem a explorar as propostas — da tribuna do Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ) diz que o PMDB quer acabar com a correção de programas como o Bolsa Família. Eles ainda rebatizaram o plano depois que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apareceu ao lado de Jucá em fotos, quando foi aprovado o desembarque do governo.
— A “Pinguela para o passado” de Cunha-Temer aponta suas baterias não apenas contra o legado social de Lula, mas também contra a Constituição de Ulysses Guimarães e a CLT de Getulio — provocou o senador Lindbergh.
Aliados de Temer avaliam que, ao assumir, ele terá de apresentar logo no início medidas de impacto na área econômica. A mais citada é a redução de ministérios e cargos comissionados, além de ajustes nas contas públicas. Também defendem que, se quiser reconquistar a credibilidade, terá de mesclar, como seus ministros, políticos e pessoas notáveis da sociedade em áreas estratégicas, como Saúde, Educação e Justiça.
Apesar de ser bandeira defendida recentemente pela presidente Dilma Rousseff, a reforma da Previdência é tida como inevitável e algo a ser enfrentado prioritariamente por Temer. Há quem fale na volta da CPMF para ajudar a cobrir o rombo das contas públicas, mas esse será um tema com resistência em partidos da oposição. Nos bastidores, aliados dizem que é preciso ser realista, entender que esse é um governo de transição a ser composto com os demais aliados.
— O Temer precisa equilibrar as contas e fazer as eleições de 2018. Se tentar fazer grandes reformas, vira o governo Dilma. Para aprovar algo, terá de fazer muitas concessões. O melhor é tomar medidas que demonstrem austeridade no custeio da máquina. Não dá para inventar muito. Um Plano Real não aparece a qualquer hora — diz um aliado.
Fonte:Â Com informações do O Globo