Em relatório apresentado ao Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal apontou indícios de que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. (Foto: Beto Barata/Agência Senado).
O documento foi juntado a um dos inquéritos da Operação Lava Jato, que estava em segredo de Justiça e cujo teor foi tornado público ontem (4).
O relatório conclusivo da investigação é de 19 de outubro e foi encaminhado pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Caberá ao procurador decidir se denuncia ou não o parlamentares.
O inquérito, que foi aberto em junho do ano passado, se baseia nas delações premiadas do dono da UTC Engenharia Ricardo Pessoa e do ex-diretor da UTC Walmir Pinheiro, delatores da Lava Jato.
Pessoa relatou a investigadores que mandou entregar em dinheiro vivo R$ 1,5 milhão para um assessor do senador em três parcelas até março de 2014.
Depois disso, destacou o delator, ele ainda pagou mais R$ 475 mil ao senador por meio de contratos fictícios firmados com um escritório de advocacia. Pessoa disse que ainda repassaria mais R$ 256 mil ao parlamentar, mas acabou sendo preso na sétima fase da Lava Jato, em novembro de 2014.
Ricardo Pessoa contou que, no segundo semestre de 2013, foi procurado por Ciro Nogueira, que, segundo o delator, afirmou que precisava de R$ 2 milhões para despesas médicas de um parente.
O empresário propôs que a UTC pagasse as despesas médicas, mas, segundo disse no depoimento, o senador rejeitou e pediu o dinheiro. Pessoa disse que aceitou porque tinha interesses em obras do Ministério das Cidades, que era comandado por Ciro Nogueira.
Conforme a PF, "o acervo informativo" após a coleta de provas mostrou que há indícios de que Ciro Nogueira solicitou, em 2013, e recebeu no ano seguinte R$ 1,4 milhões em dinheiro vivo de Ricardo Pessoa, valores que foram entregues por auxiliares do doleiro Alberto Youssef.
Além disso, segundo a PF, recebeu R$ 475 mil repassados a partir de um contrato da UTC com um escritório de advocacia, sem que os serviços tivessem sido prestados. O relatório indica que isso demonstra o cometimento da corrupção.
Para a polícia, "na medida em que se valeu da interposição do escritório (...) para dissimular a origem e natureza das montas que lhe foram encaminhadas", o senador cometeu também o crime de lavagem de dinheiro.
Ciro Nogueira prestou depoimento no inquérito e negou que tenha recebido qualquer valor. Ele afirmou que a história é inverídica porque "vem de família rica, com renda mensal conjunta com sua esposa que soma o montante mensal de aproximadamente R$ 200 mil e que possuem planos de saúde custeados pelo Senado e ela pela Câmara sem limites de gastos". Também negou que tenha tido contatos com o escritório de advocacia citado.
Fonte: G1