O ex-governador Wilson Martins (PSB) está apostando na união das oposições para derrotar o governador Wellington Dias (PT) em 2018. Antigo aliado do petista, chegando a ocupar o cargo de vice, Wilson Martins acredita que há um cansaço na gestão do PT no Piauí como também no Brasil inteiro. “O Wellington está sobrevivendo de um projeto que fizemos”, declarou em entrevista ao Cidadeverde.com.
Derrotado nas eleições para o Senado em 2014, Wilson prefere não arriscar um nome para enfrentar o petista em 2018. Mas defende a união de todos que estão na oposição. “Estamos defendendo não falar em nomes e juntar a oposição. Vamos ter na história do PT do Piauí, uma das eleições mais disputadas e as oposições entram aí com a possibilidade real de vencer as eleições”, declarou.
Se dedicando totalmente à medicina atualmente, o ex-governador fala ainda do crescimento do PP no Estado e das investidas de Ciro Nogueira para tirar líderes do seu partido, inclusive oferecendo cargos. "O PP fez uma pressão muito grande em cima dos nossos correligionários", declarou.
Confira a entrevista:
Como está a sua vida profissional após ter se afastado do cargo de governador?
Wilson Martins - Retomei minha profissão para qual eu me preparei ao longo de toda a minha vida, a Medicina, e estou na ativa, trabalhando de segunda a sexta-feira pela manhã. Depois de sair do governo, fui fazer uma reciclagem, visitar vários países e também outros estados do Brasil para se reinserir, já que há seis anos tinha me afastado da profissão de neurologista e neurocirurgião. Estou aproveitando o momento vago para as atividades político-partidárias. Estou na presidência do partido no Estado, e também sou secretário da Executiva nacional, em Brasília.
Qual o panorama do PSB no Estado e quais têm sido os trabalhos e as estratégias que estão sendo desenvolvidas atualmente?
O partido já foi o maior do Estado, chegamos ao governo em 2006, e isso abriu uma perspectiva significativa do poder e fomos eleitos vice-governador e depois governador e depois reeleitos. Hoje estamos do outro lado, sem governo estadual e sem o federal. Montamos uma estratégia de nos reunir semanalmente com lideranças, criamos data fixa de reunião ampliada, todas as segundas-feiras, às 18h, e nos reunimos lá para discutir política, criamos o Café com Política. Com isso, conseguimos juntar deputados estaduais e federais, entre 40 e 70 pessoas, para discutir temas importantes. Isso foi importante porque mantivemos a alma do partido viva, o que permitiu que não nos isolássemos, mesmo tendo perdido a eleição para o Senado, que foi a vaga majoritária que havia sido disputada pelo partido aqui no Piauí. Estamos ouvindo não só a opinião interna do partido como também, a de outros partidos, nessa necessidade que a gente tem, nesse contexto, de reorganizar a oposição do Piauí. Assim, conseguimos manter, através dessas reuniões, da visita aos municípios, de atender permanentemente aos anseios dos que nos procuram e o partido sobreviveu de forma absolutamente segura.
Foto: Wilson Filho
Fomos para as eleições municipais e o PP fez uma pressão muito grande em cima dos nossos correligionários, oferecendo benesses do próprio governo em troca de convênios e cargos. O PP do senador Ciro se fortaleceu pela força nacional, então como eles neste momento apresentam uma perspectiva de poder muito maior do que nós, os fracos, aqueles que estiveram conosco porque tinham interesse em perspectiva de governo, evidentemente saíram, não foram muitos e o partido conseguiu eleger 34 prefeitos, 30 vices, 250 vereadores e se firmou dentre as três maiores forças do Piauí, é o 3º em nível de prefeitos, bem próximo do 1º e do 2º, é o maior em vices, então temos a 1ª ou 2ª maior força política em 65 municípios do Estado. E, além disso, foi o que elegeu mais vereadores, empatando com PP e PMDB. No balanço geral, nós ficamos como o partido que embora esteja na oposição em nível nacional e estadual, sob pressão dos adversários, se firmou como uma das maiores forças políticas do Estado.
O senhor falou em reorganizar a oposição no Piauí? Como isso está sendo vislumbrando pelo partido? O senhor acredita em uma oposição forte para 2018?
O Estado é muito politizado, as pessoas gostam da política, de conversar, de participar dos atos, e aqui nunca teve oposição fraca. Nunca perdeu uma eleição com menos de 30 a 35% dos votos. Então é muito voto por mais fraca que seja a oposição.
O governador está a qualquer custo querendo se reeleger a governador. Enquanto o mundo está pegando fogo com uma dificuldade tremenda, ele está loteando o governo para os partidos políticos, criando mais secretarias. Já são 14 deputados somando os suplentes que foram convocados. É uma coisa que cansa, isso cansa. Governar é uma missão que você deve governar uma vez e talvez uma segunda vez, mas 16? Então há um cansaço na gestão do PT no Piauí como há no Brasil inteiro. Na ultima eleição com a Dilma tendo 83% dos votos no Piauí, Wellington sendo eleito no segundo, mas foi só no Piauí e no Acre, que são pequenos relativamente, em peso eleitoral. Há uma vontade do povo natural não só por conta do governador, mas por conta de renovação.
Qual a novidade que o governador está fazendo no Piauí?
Qual foi a obra importante que ele trouxe para o Piauí? Ele está fazendo um empréstimo atrás do outro, atrasando salários, compromissos. Há um cansaço com um governo que não tem nenhum projeto. Em dois anos com a Dilma, ele não tem uma obra importante. O Wellington está sobrevivendo de um projeto que fizemos. Planejamos o Piauí a curto médio e longo prazo. Deixamos um projeto aprovado no Banco Mundial, de R$ 1 bilhão e ele recebeu e já torrou esse dinheiro, que era para ser aplicado ao longo da gestão em desenvolvimento, meio ambiente, saúde, educação, infra-estrutura e agricultura familiar e já tomando não sei mais quantos empréstimos. Há uma quantidade enorme de projetos e obra que deixamos em andamento e que o governador não tem dado conta nem de concluir os investimentos. Por exemplo, Rodoanel de Teresina, que deixamos o dinheiro, 80% da obra realizada e ele não deu conta de concluir mesmo com o dinheiro na conta. A duplicação das BRs. O governador perdeu a palavra. Maternidade, Centro de Convenções, Transcerrados. As propagandas do governo são falsas, são bonitas, mas são falsas. O povo já está desesperançoso com essa questão.
Foto: Wilson Filho
E a sua relação com Wellington? Existe algum sentimento de mágoa?
O Wellington é uma pessoa boníssima. Tenho apreço muito grande por ele, convivi com ele durante muito tempo. Fui secretário de Saúde de Teresina, em 93 e ele era vereador, e na oposição, e nos entendemos muito bem e fizemos uma boa parceria. Ele foi candidato a deputado estadual e eu também, ele em um partido e eu em outro. Fomos eleitos juntos e fomos deputados juntos de 95 a 98, quando ele saiu para ser deputado federal, já em uma coligação com a gente na época, e depois os caminhos terminaram se cruzando e fui ser secretário dele, e fui vice-governador e governador, ajudando ele também a se eleger senador. E lá na frente o destino nos separou novamente, porque um grande amigo que era presidente do partido da gente, que queria ser candidato a presidente da República, renunciou ao mandato, o Eduardo Campos, e o PT chutou todos nós que tínhamos ajudado a eleger a presidente Dilma e afastou todos nós do governo. Eu era governador aqui e houve esse afastamento por conta do alinhamento nacional. Se não fosse isso provavelmente nos teríamos seguido juntos porque temos uma boa relação, tenho um carinho muito grande por ele, o respeito muito. Já disse isso para ele e vou dizer sempre que precisar; 'Olha, gosto muito de você, mas sai daí, Wellington, não está mais na hora de você ser governador, você vai tentar e não vai ter sucesso'. O governador tem tido muita sorte, tem pegado muita 'ola' favorável a ele. Você ser candidato, com seu candidato a presidente tendo tido 83% de votos é muito favorável. E foi onde perdemos a eleição para o Senado, porque se votou no time, na chapa, e aí levaram o Elmano e criaram uma figura de marketing de velhinho trabalhador, também mentindo, e pelo menos até agora não está trabalhando nada. Do trabalho que está sendo feito pelos senadores, você pode elogiar o do Ciro Nogueira, que apesar das dificuldades que vive neste momento, mas é um líder nacional, e tem, através desse prestígio, trazido muitos recursos para o Piauí. Os outros não fazem nada.
O Wellington teve muita sorte e eu acho que a 'ola', pelo menos a princípio, não vem favorável a ele. Você vê um conjunto de dificuldades e o governador loteando o governo, dividindo a previdência sem necessidade. Vai dividir a Secretaria de Saúde em duas, a secretaria em si e outra de administração dos hospitais, pra que? Os hospitais hoje são municipalizados e a regionalização faz parte do contexto da regulação, que é feita pela Secretaria de Saúde. Isso é maluquice, é apelação, de em um momento que deve conter despesas, você aumentá-las. Eu vejo isso como um fato negativo. Não existem fatos positivos no governo Wellington Dias que a gente possa aplaudir. Respeito ele como cidadão, amigo, é um bom amigo, gosto muito dele e tenho um apreço muito grande por ele, mas politicamente tenho o direito de colocar o dedo onde acho que não está indo certo.
O senhor tem pretensões de se candidatar a um cargo majoritário em 2018?
Nós temos dito que o PSB, pelo tamanho e história dele, marchando junto com as oposições, será contemplado com umas das vagas na chapa majoritária. Não dá para se formar uma chapa na oposição sem o PSB, porque os partidos que estão na oposição, se o PT está do lado de lá e é o maior e se o PP ficar do lado de cá, somos o segundo maior partido. Então estamos defendendo não falar em nomes e juntar a oposição com o João Vicente Claudino. Tem eu no PSB, e o PSB tem muitos nomes que poderão ocupar essa vaga majoritária, como o Átila Lira, o Heráclito Fortes, o Rodrigo Martins, o Wilson Brandão, o Gustavo Neiva, porque é um partido que tem muitas lideranças. Você tem uma liderança que tem feito uma oposição ferrada ao governo, que é o Robert Rios, que tem toda condição de fazer parte da chapa nesse contexto. Aí temos ainda o ex-governador Zé Filho e o prefeito Mão Santa.
Eu não acredito na possibilidade de o PP ficar com o PT, porque não tem sentido, são absolutamente antagônicos. Eles ficaram no mesmo palanque nas eleições de 2014 por uma circunstância, já que estavam todos apoiando a Dilma. O Ciro era muito forte no governo da Dilma, o seu partido também, mas o PP foi o responsável direto pela queda da Dilma. Há um ódio do pessoal do PT pelo Ciro e Iracema Portela, que aonde eles chegam são xingados de golpistas pela militância do PT. Então no próximo ano você vai ver que há uma possibilidade de não estarem mais juntos e aí o PP se soma ao PSDB. O prefeito Firmino Filho já anunciou que vai ficar junto com o Ciro, e a oposição, sem sombra de dúvida, se fortalecerá muito, mas independente da vinda do Ciro, o PSDB, que é um partido forte, não tem condições de ficar junto com o PT. Então vamos ter na história do PT do Piauí, uma das eleições mais disputadas e as oposições entram aí com a possibilidade real de vencer as eleições.
Há convite para que o João Vicente Claudino ingresse no PSB?
Há, mas só por uma questão de cortesia, porque por uma estratégia, tanto eu como o João sabemos disso, é melhor que ele esteja em outro partido. Na política você tem que ter não só os nomes, mas os partidos, partidos sólidos com tempo de televisão, com recursos do Fundo partidário, enfim, é muito mais negócio ele ficar em outro partido.
Mas se o partido assim decidir o senhor será candidato?
Não é bem assim, porque para você ser candidato, é preciso haver as pesquisas de opinião. Porque você pode até ser um bom companheiro, mas não está pontuando nas pesquisas. Depende do momento, se tiver que ser meu nome, e for esse o apelo para somar, será o meu nome, sem haver dificuldade. A diferença é que não vamos brigar por isso. Eu já briguei porque queria ser senador, governador do Piauí, como fui, graças a Deus, porque naquele momento era importante, mas agora estou muito feliz, satisfeito.
Fonte? Por Lyza Freitas / Cidadeverde