Preocupados com as eleições do ano que vem e temerosos de que surjam novas acusações, deputados que pretendem votar pela rejeição da denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer não estão dispostos a colocar a mão no fogo pelo peemedebista. Na votação em plenário, eles tentarão minimizar o desgaste recorrendo a argumentos técnicos e políticos, sem fazer a defesa pessoal do presidente.
A oposição pressiona para que o rito da sessão seja o mesmo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, quando cada deputado teve que anunciar seu voto no microfone. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda não decidiu.
Laerte Bessa (PR-DF) disse que, ao proferir seu voto, vai se ater à denúncia por corrupção passiva:
— A gente não sabe o que está por vir. Por enquanto, não tem prova nenhuma contra o presidente. Essa denúncia é totalmente inepta. Estou defendendo a legalidade da coisa.
Bessa fez um paralelo entre a situação de Temer e a do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ):
— Votei contra a cassação do Eduardo Cunha no Conselho de Ética porque nunca se provou, até hoje, que ele tem conta no exterior. Mas, depois, ficou provado que ele pegou propina em tudo quanto é lugar. Ficou-se sabendo que ele é ladrão. Aí eu me abstive no plenário.
Já Nelson Meurer (PP-PR) afirmou que não justificará seu voto:
— Vou votar não e não vou dizer mais nada. O Brasil não aguenta a queda de dois presidentes no mesmo mandato. Se o Temer cometeu alguma infração, aguardem para acioná-lo depois que ele sair da Presidência.
Segundo Luis Carlos Heinze (PP-RS), 95% de sua base eleitoral são favoráveis à manutenção de Temer e isso vai orientar seu voto:
— Se aparecer fato novo, é outra história. Tem que continuar, não é pelo Michel Temer, não é pelo PMDB, é pelo Brasil. É o melhor neste momento.
Para Valdir Colatto (PMDB-SC), Temer só deve ser investigado depois que deixar a Presidência da República:
— Quer melhor justificativa para o Temer ficar do que o PT não voltar ao governo? E eu estou pensando no Brasil, senão afunda. Tirar governo, botar governo, a economia vai para o espaço. Pessoalmente, depois que ele sair da Presidência da República, ele responde à Justiça. Se tiver crime, vai ter que responder.
Danilo Forte (PSB-CE) afirmou que repetirá os argumentos que usou na votação na Comissão de Constituição e Justiça, de que não há provas e que não é um “ato banal” que afastará um presidente da República.
— Temos que ter muito cuidado. Hoje é o presidente Michel Temer. Amanhã pode ser qualquer homem público deste país.
Essas defesas cautelosas estão longe do tom a ser adotado por Wladimir Costa (PMDB-PA):
— Meu argumento é a idoneidade do presidente. Fundamental é a história, a transparência do presidente, que nunca meteu a mão na lama.
Fonte: O Globo