Com mandato até 17 de setembro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, destacou que tem duas linhas de investigação para a nova denúncia contra o presidente Michel Temer: obstrução de Justiça e organização criminosa. Em entrevista à "Folha de S. Paulo", publicada na manhã desta segunda-feira, o procurador-geral frisou que "colaborações em curso podem e muito auxiliar" na apuração contra o peemedebista.
"Uma coisa é a polícia relatar (a investigação sobre obstrução de Justiça concluída pela Polícia Federal). Outra coisa é eu, como titular da ação, entender que é o suficiente. Se entender que não, vou pedir diligências. Estamos com colaborações em curso que podem e muito nos auxiliar em uma e outra investigação", destacou Janot, sem citar os autores das delações, supostamente Eduardo Cunha e Lucio Funaro, ligados às colaborações da JBS.
O chefe do Ministério Público Federal voltou a dizer que "enquanto houver bambu, lá vai flecha". Na entrevista, ele ainda revelou que vai revogar um acordo de delação premiada "por falta de protagonismo do colaborador". Ele não abriu qual delator será alvo do fato inédito. Janot negou que a Câmara dos Deputados tenha barrado a denúncia contra Temer, que volta a vigorar ao fim do mandato de presidente.
"A Câmara entendeu que não era convenientemente o momento para o processamento do presidente. Que a Câmara agora arque com as consequências. Agora, a denúncia continua íntegra, em suspenso esperando o final do mandato", frisou ele, que reforçou a sua certeza de que Temer deu aval para comprar o silêncio de Cunha no grampo do empresário Joesley Batista. — 'Tem que manter isso' o que é? Uma compra de carne? (...) Se a gente não vive o país da carochinha, vamos interpretar o que está dito, gravado.
Janot defende acordo com JBS
Na visão de Janot, o único erro possível na promoção do acordo com os delatores da JBS foi de comunicação. A contraparte, segundo ele, "foi esperta em usar versões do fato para tentar mudá-lo". Aceitar a imunidade dos empresários, principal ponto criticado da delação, era a saída para evitar a continuidade de crimes que estavam em curso.
"Se houve erro, foi de comunicação. Vamos lembrar. Recebo comunicado de que empresários relatariam com provas a prática de crime em curso do presidente, de um senador que teve 50 milhões de votos na última eleição e seria virtualmente o novo presidente, de um deputado e de um colega infliltrado na nossa instituição. Eles dizem: "a gente negocia tudo, menos a imunidade". A opção que tinha era: sabendo desse fato e não podendo investigar sem que colaborassem, teria que deixar isso continuasse acontecendo ou conceder a imunidade", explicou.
O procurador-geral ainda avaliou que o MPF não deve levar em conta o fator econômico, político e social que resulta das investigações, em resposta à tese da defesa de que os inquéritos desestabilizam o país.
"Agora, a saída política não é você considerar bandido como político. O bandido que se esconde atrás do manto político não é político, é bandido", destacou Janot.
Fonte: O Globo