Matéria / Curiosidades

Cérebro interpreta os sonhos como atividades reais

05/02/2012 |
/

Quem nunca sonhou que estava caindo, voando, dançando ou mergulhando, e teve a sensação que era real. Uma nova pesquisa revela que o cérebro responde a esses estímulos como se eles estivessem sendo executados enquanto uma pessoa está acordada.

Segundo um estudo conduzido por Martin Dresler e Michael Czisch, neurocientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, áreas do cérebro que representam movimentos específicos são ativadas durante os sonhos.

Os pesquisadores utilizaram técnicas de imagens, como ressonância magnética, para 'assistir' ao que os voluntários faziam durante o sono. Para conseguir avaliar esses estímulos ao longo da experiência, eles escolheram seis sonhadores lúcidos treinados, ou seja, pessoas que conseguem controlar suas ações nesse estado.

Dresler e Czisch, escanearam os cérebros dos voluntários enquanto eles movimentavam as mãos esquerda e direita durante o sonho lúcido. Eles observaram, então, que o registro de atividade neural no córtex sensório-motor do cérebro estava diretamente interligado aos movimentos das mãos realizados no sonho. Em tese, o órgão reagiu ao estímulo como se a pessoa estivesse mexendo os membros enquanto acordada.

"O que a nossa pesquisa sugere é que os sonhos não são representados como cenas visuais, a exemplo do que ocorre quando assistimos a um filme. O ato de sonhar envolve o corpo como um todo", explica Dresler.

O estudo alemão foi publicado no periódico Current Biology e a expectativa dos neurocientistas é repetir os experimentos com outros sonhadores lúcidos. A ideia do grupo é tentar descobrir como o cérebro responde a sonhos que envolvam movimentos complexos, como andar, falar ou até mesmo voar.

Para o neurocientista, Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o estudo alemão é de grande importância para a comunidade. De acordo com Ribeiro, esta foi a primeira vez que um grupo de pesquisa conseguiu registrar através de imagens as atividades cerebrais durante o sonho. "É difícil uma pessoa conseguir dormir dentro de um aparelho de ressonância magnética para que possamos analisar sua atividade cerebral", afirmou o especialista. "Essa é uma das razões pela qual existem poucos estudos sobre o assunto publicados em todo o mundo."

Segundo o acadêmico, só o fato dos especialistas terem conseguido analisar o comportamento de um sonhador lúcido já representa um avanço científico. Essa ativação equivalente nos dois estados (sonhando e acordado) já foi testemunhada no sono, mas nunca comprovada durante os sonhos.

Sonhador lúdico

O brasileiro explica ainda que o sonho lúcido é uma situação na qual as pessoas têm total controle da situação. "Quase todo mundo já experimentou, especialmente pela manhã ou no cochilo da tarde", conta. "Poucas pessoas, contudo, conseguem intervir nas atividades realizadas durante esse estado, embora essa capacidade possa ser aprimorada a partir de treinos, como já acontece na yoga tibetana", explica Sidarta Ribeiro.

No futuro, prevê o especialista, será possível treinar uma atividade como jogar uma bolinha de papel no cesto de lixo, por exemplo, durante um sonho lúcido e perceber uma melhora significativa em sua execução quando acordado.

O doutor Sidarta Ribeiro, é professor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e é considerado um dos mais importantes neurocientistas do Brasil, sendo PhD pela Universidade de Rockefeller e pós-doutor pela Universidade de Duke. Atua nos seguintes temas: sono, sonho e memória, entre outros.

Como conclusão do estudo Alemão, conduzido por Martin Dresler e Michael Czisch, eles destacam que esse feito é muito importante para os cientistas, já que os ajuda a entender melhor o significado dos sonhos. Se no futuro for possível utilizar o sono para simular atividades que serão executadas quando acordados, estaremos vivendo a realidade proposta pelos irmãos Larry e Andy Wachowski no filme de ficção-científica Matrix.


Fonte: com informações da Veja

Facebook