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W.Dias e 15 governadores criticam agressões e fake news em razão de morte de soldado na BA

A carta foi publicada em meio a uma tentativa de deputados bolsonaristas de incitarem policiais e a população a descumprirem ordens dadas por governadores e prefeitos

29/03/2021 | Redação
Governador Wellington Dias / Foto: Reprodução

DANIELLE BRANT (FOLHAPRESS)BRASÍLIA, DF

Governadores de 16 estados divulgaram nesta segunda-feira (29) uma carta em que manifestam indignação contra uma onda de agressões e disseminação de fake news que tenta, segundo eles, criar instabilidade institucional nos estados e manipular policiais contra a ordem democrática.

A manifestação acontece após a deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da CCJ (comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, publicar post em que chamou de herói o soldado da Polícia Militar da Bahia que fez disparos em ponto turístico de Salvador. A parlamentar, que também incitou um motim, apagou a mensagem, defendendo que o episódio seja investigado.

Outro aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) também defendeu em uma live realizada no domingo (28) a criação de milícias para agredir fisicamente os guardas municipais que reprimem a abertura de comércio em cidades que estão sob lockdown por ordem dos governadores.

A carta é assinada pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT). Na noite de domingo, o soldado Wesley Soares foi baleado após ter passado cerca de quatro horas dando tiros para o alto e gritando palavras de ordem no Farol da Barra, um dos principais pontos turísticos de Salvador.

Ele foi atingido por tiros por volta das 18h30, após ter erguido um fuzil e disparado contra os colegas da PM que negociavam a sua rendição. O soldado chegou a ser socorrido por uma ambulância e levado para o Hospital Geral do Estado, mas não resistiu aos ferimentos morreu na noite deste domingo (28).

No documento publicado nesta segunda (29), os governadores afirmam que estão lutando ao lado de servidores públicos e profissionais do setor privado para garantir apoio e atendimento à população diante da piora da pandemia.

"Enquanto isso, alguns agentes políticos espalham mentiras sobre dinheiro jamais repassado aos estados, fomentam tentativas de cassação de mandatos, tentam manipular policiais contra a ordem democrática, entre outros atos absurdos", escrevem.

"Registramos especialmente o nosso protesto quando são autoridades federais, inclusive do Congresso Nacional, que violam os princípios da lealdade federativa."

A carta pede que Bolsonaro, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, tomem providências para coibir atos ilegais e imorais.

"Os estados e todos os agentes públicos precisam de paz para prosseguir com o seu trabalho, salvando vidas e empregos", dizem. "Estimular motins policiais, divulgar fake news, agredir governadores e adversários políticos, são procedimentos repugnantes, que não podem prosperar em um país livre e democrático."

Além de Rui Costa, assinam a carta os governadores de Maranhão, Flávio Dino (PCdoB); Pará, Helder Barbalho (MDB); Pernambuco, Paulo Câmara (PSB); São Paulo, João Doria (PSDB), Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM); Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB); Ceará, Camilo Santana (PT); Paraíba, João Azêvedo (Cidadania); Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB); Piauí, Wellington Dias (PT); Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT); Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD); Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), e Amapá, Waldez Góes (PDT).

A carta foi publicada em meio a uma tentativa de deputados bolsonaristas de incitarem policiais e a população a descumprirem ordens dadas por governadores e prefeitos.

Na madrugada desta segunda, Kicis usou suas redes sociais para defender o soldado morto por colegas após surto psicótico em Salvador.

"Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia", escreveu. "Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia arou. Chega de cumprir ordem ilegal!"

Na manhã desta segunda, a deputada voltou às redes sociais para apagar o post e justificar a decisão. Kicis afirmou ter sido informada na madrugada que o PM morto durante o surto havia atirado para o alto e foi baleado por colegas.

"As redes se comoveram e eu também. Hoje cedo removi o post para aguardarmos as investigações. Inclusive diante do reconhecimento da fundamental hierarquia militar", afirmou.

Bia Kicis é investigada no inquérito das fake news e no que apura atos antidemocráticos. Assim como Bolsonaro, é crítica do isolamento social para evitar a propagação do novo coronavírus.

Filho 03 do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também defendeu o PM morto pelos agentes do Bope.

"Aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição. Esse sistema ditatorial vai mudar", disse. "Protestos pipocam pelo mundo e a imprensa já não consegue abafar. Estão brincando de democracia achando que o povo é otário. Que Deus conforte os familiares do PM-BA."

Também nesta segunda, a Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) publicou nota de repúdio às declarações de Jefferson. "É impensável e inadmissível que uma pessoa que foi representante do povo incite a violência e defenda ações criminosas", afirma a nota.

"As forças de segurança do País estão na linha de frente. Não pararam um dia sequer, mesmo em tempos de pandemia. E não é aceitável que um ex-representante do povo, que deveria compreender o que estabelece a lei ao invés de afrontá-la, se manifeste de maneira vil contra profissionais que estão fazendo seu trabalho."

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