Matéria / Polícia

Caso Fernanda Lages: Promotores não aceitam; James e Robert contestam

18/02/2014 | Edivan Araujo
/

Os promotores Eliardo Cabral e Ubaraci Rocha, representantes do Ministério Público Federal, estiveram mais uma vez na TV para mostrarem seu descontentamento sobre o resultado da autópsia psicológica realizada para tentar esclarecer a morte estudante de Direito, Fernanda Lages, que foi encontrada morta na construção do prédio do MPF em 2011.

Desta vez, na TV Antena 10, no programa Balanço Geral que foi apresentado pelo Jornalista Dânio Sousa, os promotores afirmaram que as investigações não serão encerradas aqui, e que a mais de 2 milhões de piauienses e a Justiça necessita saber da verdadeira versão do que realmente aconteceu.

"Enquanto não souberem quem é esse homem que estava junto com a Nayra e com a Fernanda, assim como as testemunhas relataram, as investigações não serão concluídas", disse Ubiraci Rocha.

Segundo o promotor, um dos vigias, identificado como Jason, teria dado declarações importantes durante seu testemunho, mas, que as mesmas teriam sido desconsideradas pelos delegados da Polícia Federal no Piauí, que acompanharam o andamento das investigações, são eles, o delegado Kleydson Ferreira, Daniella Barros e Cristiane Vasconcellos.

De acordo com os promotores, Jason, um suposto testemunho teria afirmado que havia visto um homem junto das duas mulheres, mas, não soube identificar quem seria o homem. O outro vigia teve um depoimento totalmente contrário ao de Jason, e que estaria indo de encontro ao que acredita ser verdadeiro a polícia.

"Não tem como desconsiderar o depoimento de uma pessoa como essa, ele inclusive já trabalhou como cobrador de ônibus, e muitas vezes descia para retirar bagagens, e quando voltava sabia onde havia parado com as cobranças de passagens. Ou seja, ele tinha uma excelente memória fotográfica, e não tem como desconsiderar ou desacreditar no que ele relatou", disse Eliardo Cabral.

O promotor disse ser inacreditável que uma investigação tão demorada tenha resultado no que afirmou a psiquiatra Maria da Conceição Krause, do DF, que afirmou que Fernanda Lages após perder a virgindade passou a ingerir altos níveis de álcool diariamente, que estaria fumando descontroladamente, e praticando sexo quase que diariamente com pessoas desconhecidas e sem proteção. Segundo ela, essas atitudes tomadas pela jovem teriam a levado para um quadro de suicida.

"Se praticar sexo, fumar e ingerir álcool em excesso for motivo para se tornar suicida, há tempos eu teria morrido, juntamente com mais da metade da população", criticou Eliardo.

DELEGADO GERAL CONTESTA

O delegado geral James Guerra contesta a opinião dos promotores e concorda plenamente no que tem apresentado o resultado da autópsia. Para ele, o caso Fernanda Lages já é um caso judicialmente resolvido, e que de fato, a jovem teria se matado.

"O caso Fernanda Lages para mim já está judicialmente resolvido, não há mais o que contestar, todos os procedimentos possíveis foram tomados, anos de investigações foram realizados, e o resultado aponta que a Fernanda cometeu suicídio, para mim não há mais o que contestar", disse o delegado.

ROBERT RIOS SEGUE COM JAMES GUERRA

O secretário de Segurança do Estado, Robert Rios Magalhães, afirmou durante entrevista ao Jornal do Piauí, que também não acredita na possibilidade de homicídio, e que concorda com o resultado divulgado pela autópsia.

Robert disse que muitos estão 'loucos' por contestarem um resultado após uma minuciosa investigação, e que não há motivos para se 'teimar com a realidade'. "Louco é quem quer teimar com a realidade, depois tantas investigações não tem mais o que procurar, o resultado é esse aí, se a autópsia afirma que ela suicidou-se eu tenho que acreditar", disse.

Ele aproveitou o espaço e ainda fez duras críticas ao promotores do Ministério Público Federal, Eliardo Cabral e Ubiraci Rocha. Indiretamente e sem citar nomes, o secretário disse que muitos ainda querem contestar um fato resolvido. "Ainda tem muita gente que anteriormente utilizou os meios de comunicação para falar muita besteira, e hoje não tem como voltar mais atrás, por isso, ficam aí contestando, isso é uma falta de responsabilidade", criticou.

Para ele, os promotores deveriam assumir a responsabilidade, e dizer quem eles afirmam saber que é o acusado de ter praticado o homicídio. "Eles falaram muita besteira, inclusive que sabiam até o tamanho do sapato do assassino, falaram que usava tamanho 42 e estava na Bahia, eu pensei que fosse até o Carlinhos Brown", disse Robert.

ENTENDA

A psiquiatra Maria da Conceição Krause do Distrito Federal está apresentando neste momento o resultado da autopsia psicológica da estudante Fernanda Lages, que morreu no dia 25 de agosto de 2011. Em sua conclusão, Krause confirmou que a estudante cometeu suicídio.

Ela narrou todos os últimos meses de vida da Fernanda, através das 27 pessoas que foram entrevistadas, entre amigos, testemunhas e familiares, sendo que sete pessoas passaram por um teste de credibilidade para verificar se as declarações eram verídicas.

Suicídio

Após explanação do trabalho realizado, a especialista concluiu que a estudante Fernanda Lages cometeu suicídio, por apresentar um quadro de transtorno bipolar, transtornos mentais e comportamentais decorrente do uso de álcool.

“O quadro que a Fernanda apresentava nos últimos seis meses antes da morte. Houve um declínio do seu humor, a partir do namoro, mas o divisor de águas foi quando ela quis sair da casa da tia para morar com amigos. Houve exacerbação do libido, aumento do fluxo de ideias, uma elevação na variação do humor e de comportamentos autodestrutivos diretos”, destacou a psiquiatra.

Ela citou como exemplo o fato de Fernanda sair para beber praticamente todos os dias, um grande consumo de álcool, relacionamentos amorosos com vários homens e muitos deles desconhecidos, e relação com amigos que tinham envolvimento com drogas e com a polícia.

A especialista elogiou o trabalho das Polícias Civil e Federal.

A explanação

Krause conta que o relato de duas testemunhas que disseram ter visto Fernanda em frente ao prédio do Ministério Público Federal horas antes dela ter sido encontrada morta não foram levados em consideração, por não apresentarem credibilidade e contradições.

A especialista disse que uma das testemunhas não teve credibilidade e o relato não condizia com a realidade, que foi comprovada através de comparações entre as declarações e o tempo.

Álcool

A especialista confirmou que Fernanda estava alcoolizada e que isso causou uma instabilidade e prejuízo de julgamento, comprometeu a percepção de memória, prejudicou o equilíbrio e alterou o humor que ficou instável.

“A Fernanda tinha tolerância ao álcool e pode não ter tido problemas físicos, mas estava com os fatores psicológicos alterados”, afirmou Maria da Conceição.

Vida noturna agitada

A especialista disse que Fernanda mudou seu humor e atitudes em seis meses, após perder a virgindade por volta do dia 24 de outubro de 2010. Fernanda teria passado de uma pessoa, calma e caseira para uma jovem que tinha uma vida noturna muito agitada e bebia muito. Krause disse ainda que dois dias antes da morte, ela estava depressiva.

Não se prostituía

Apesar da vida agitada de Fernanda, a perita afirma que em nenhum momento encontrou indícios de que havia se prostituído. “A Fernanda tinha um comportamento de caso ela visse um homem passando de carro que lhe interessasse, ela ia até ele e entregava um telefone. Não importando se ela conhecia ou não e se ele era casado ou não”, declarou Krause.

De acordo com ela, os relatos revelaram que Fernanda tinha o hábito de sair com vários homens, mesmo que fosse com aqueles que ela tivesse conhecido naquela noite e dormir na casa dele, mesmo sem ter tido maiores intimidades.

Declaração comovente

A declaração do pai da Fernanda, Paulo Lages, foi o relato que mais emocionou durante todos os seus anos de trabalho com perícia psicológica. Segundo ela, a fala do pai de que não poderia ter mais filhos e dele ter uma ligação muito forte a filha foi muito comovente.

“A maioria das pessoas, parentes de suicidas, que não deixaram bilhetes não consegue acreditar no suicídio porque dizem que a pessoa que morreu nunca cometeria o ato sem avisar. Mas, acontece que essa pessoa já está psicologicamente morta e para deixar um bilhete ela ainda iria ter que apresentar algum contato com a vida. Não é que ela não amava a família, ela amava tanto que pediu para falar com o irmão na tarde anterior à sua morte e tinha como senha do computador o nome do pai, da mãe e do irmão, mas naquele momento tinha desaparecido tudo que era vida na Fernanda”, justificou a psiquiatra.

Histórico escolar

Os peritos fizeram uma análise do histórico escolar desde a infância até a faculdade de Direito que estava cursando. Segundo as avaliações, no semestre anterior à sua morte, Fernanda começou a chegar tarde e sair cedo, ela havia pego seis disciplinas, sendo que três reprovou por falta e em duas por nota, passando somente em uma.

Na coletiva, foi apresentado o resultado de seis diligências solicitadas pelo Ministério Público Estado, entre elas, autópsia psicológica, a veracidade do depoimento de dois vigilantes que disseram ter visto Fernanda na frente da obra, análise de fibras encontradas na frente da obra e no sapato da Fernanda.

Fonte: 180 Graus/ Cidade Verde

Facebook